As agulhas do desembargador
Um antigo desembargador conhecido por ser um grande jurista, mas sem traquejo em coisas mais técnicas do dia a dia, estava com um problema sério. A psoríase, doença em que a pele escama e deixa com aparência desagradável, castigava-o em momentos de maior concentração. Tentou de tudo, confidenciou-me entre um chope e outro, no falecido Bar Arthur, na Alberto Bins, anos 1970.
De tantas pomadas e remédios outros que não fizeram efeito, resolveu encarar um tratamento milagroso que um parente indicara, a acupuntura. Para não pagar mico, nem perguntou como era o procedimento. Foi no endereço indicado, onde o acupunturista explicou as regras básicas, com um frasco cheio de agulhas ao lado. Finda a breve aula, passou álcool nelas e pediu que tirasse a camisa.
– E o senhor vai fazer o quê com essas agulhas?
– Ora, vou enfiar nos pontos que lhe expliquei. Mas não dói, não se preocupe.
O homem da lei levantou de sopetão.
– Me explicou coisa nenhuma! Vá enfiar essas agulhas na senhora sua mâe. Era só que me faltava, pagar para ser torturado.
Nunca mais quis ouvir falar em acupuntura, contou ele, abocanhando um sanduíche aberto feito por Dona Margô.