Diário de uma Vida Nova
O tumor na siderúrgica
Não foi tão ruim como eu imaginava. Como vocês já devem estar sabendo, a cirurgia foi um sucesso. Só falta a biópsia – que promete ser boa notícia – em dez dias. O doutor Daniel Azambuja, exímio ás do bisturi, retirou o tumor – aparentemente, não há metástase. Os efeitos colaterais do procedimento não foram os temidos. Ao invés de ser descartado como lixo hospitalar, deveria ser vaporizado no alto forno da Siderúrgica Gerdau. Sabem como é, às vezes, eles voltam. Título daquele filme de terror.
Porém, e sempre tem um, não dá para largar foguetes ainda porque a biópsia dos outros países do meu Conesul só deve estar pronta no final da semana que vem, embora o médico tenha dito que pelas tomografias, aparentemente, não há metástase. Mas isso somente a biópsia comprovará.
Insight
Como é curiosa a mente humana. Eu tinha insights criativos na metade dos 5km que caminhava na esteira, três vezes por semana. Agora, os estou tendo na cama do hospital.
Um extraterrestre no hospital
Acordaram-me às 6h e me levaram, naquele pijama esquisito, que só abre na retaguarda (embora a operação fosse pelo abdômen), de cadeira de rodas para o bloco cirúrgico, através de várias passarelas cobertas do complexo da Santa Casa. Como estava frio, a enfermeira me envelopou com um cobertor, incluindo a cabeça. Senti-me o próprio ET do filme, na parte em que o garotinho o cobre e o esconde no cesto da bicicleta.
Dia e Hora
Antes da cirurgia, as horas passam rápido. Depois da cirurgia, cada hora dura três. Na expressão latina carpe diem significa – numa tradução livre – viva um dia de cada vez. Já a frase completa “Carpe diem, quam minimum credula postero” pode ser traduzida por “Viva um dia de cada vez e não espere nada do amanhã”. No hospital, substitua dia por hora.
Sobe:
Descobri uma nova profissão: ascensorista. Fiquei perito em manejar aqueles botõezinhos que levantam a cabeceira e os pés da cama hospitalar.
Foto: Christian Albrecht