A prisão do delegado
O Box 2l foi um dos melhores bares dos anos 1990 adentrando a década de 2000. Originalmente ficava no Hortomercado da Quintino Bocaiúva, a poucos metros da confluência da Cristovão Colombo com a Benjamin Constant. Conseguiu a proeza de reunir remanescentes de rodas fixas dos bar-chopes de 1980 e até de antes. Uma das iguarias era o pastel, este comestível que precisa ter um casamento perfeito entre casca e conteúdo. Certa vez, fui lá com o saudoso jornalista Adão Oliveira, o Adãozinho Só Sucesso, que cobria Brasília para o Jornal do Comércio. Chegou o garçom e o Adão pediu meia dúzia. Achei um exagero, afinal não eram pequenos. Assim que o garçom anotou o pedido, Adãozinho esclareceu.
– Mas sem recheio.
– Como é que ė?
– O senhor ouviu. Sem recheio.
Bueno, cada um no seu cada qual. Ele devorou seis cascas de pastel e pediu para embrulhar os restantes pra viagem. Na hora da conta, perguntou ao cara da bandeja se não dariam desconto, afinal eles estavam ocos. O garçom deu uma balançada, surpreso com o argumento, em seguida indignação com a proposta indecorosa, depois achou que era pegadinha. Mas que balançou, balançou. Claro que pagou o pastel inteiro. Até hoje fico na dúvida se o Adãozinho estava ou não falando sério.
Entre tantos outros fregueses assíduos figurava um delegado de Polícia. Como ele trabalhava em serviço burocrático e nunca prendeu ninguém, a turma o apelidou de Delegado Prisão de Ventre.
A única que efetuou.