A pele que levanta a perna

4 jul • NotasNenhum comentário em A pele que levanta a perna

Para ter chance de ser eleito deputado federal no Rio Grande do Sul, o candidato precisa partir do mínimo do mínimo, que gira em torno de R$ 500 mil. Tendo gabinete, uns R$ 400 mil. Isso se os deuses do voto forem simpáticos à causa.

Não entram nessa conta o custo de plásticas para esticar a pele do rosto. Em alguns casos, quando riem levantam uma das pernas involuntariamente,  de tão esticada a pele.

https://promo.banrisul.com.br/bdg/link/transforma.html?utm_source=fernando_albrecht&utm_medium=blog&utm_campaign=rebranding&utm_content=escala_600x90px

Outros, como Lula, preferem esvaziar as olheiras. Este é um procedimento que, na maioria dos casos, exige uma certa distância para não ser atingido pelos estilhaços.

Óculos escuros também são indispensáveis para enfrentar certas circunstâncias. Mas não podem usá-los em comícios, debates e filmes do horário eleitoral gratuito.

https://cnabrasil.org.br/senar

Mas eles são úteis quando são obrigados a participar de eventos com discursos longuíssimos. Podem servir para uma ligeira soneca, desde que o candidato esteja sentado.

Esse artifício foi desenvolvido por socialites que são obrigados a ir a velórios de pessoas não muito próximas. Mas cuja importância remete ao “tem que ir”.

Nestes casos, os óculos escuros, de preferência do tamanho da proteção usada por soldadores, são ideais para ver que elas NÃO estão chorando. Teoricamente, as pessoas acham que estão. Por algum motivo que desconheço, elas usam um litro e meio de perfume nas ocasiões fúnebres. Para chamar a atenção do finado é que não é.

Introdução à falsidade dos discursos

Discursos, ah os discursos! Acredito que os oradores que os preferem longos são ETs ou por eles foram instruídos. O pior é que depois dele batem nos ombros dizendo como ele falou bem. Elogio mais frio que cédula de 30 reais. Os puxa-sacos são os responsáveis pela proliferação de chatos.

Nestes 54 anos de jornalismo, já tive minha cota de discursos longos e chatos como um UFO da imaginação dos crentes que desenvolvi uma técnica de fingir que presto atenção. Hoje, o celular faz este papel com perfeição.

Falta um cartum que mostra alguém discursando e uma plateia lotada olhando e digitando no celular. Mais uma serventia para esse aparelhinho que pode ser Deus e também o diabo.

Acredito que o diabo está ganhando. Aliás, o diabo está ganhando geral, cadeira e meia. Em tudo.

Quem gosta muito de discurso longo é a esquerda em geral, herança dos membros do governo da falecida União Soviética e satélites. Lembram de Fidel Castro falando nove horas sem parar, como fazia Leonel Brizola, embora não fosse comunista?

Não só russos, como de outros países soviéticos também. Em alguns casos, como os alemães, juntou a fome com a vontade de comer. Curta metragem alemão costuma durar seis ou mais horas.

No Brasil, um discurso são dois. No primeiro, o orador enumera todas as autoridades presentes e às vezes até as ausentes. Além de saudar até o cachorro da família, a senhora do cafezinho dentre outros. Não raro, no final da nominata, sempre é citada alguém que o protocolo não informou ou que chegou depois do início como se parágrafos de leis fossem.

Parece que esse é um procedimento tipicamente gaúcho. Também é gaúcho os não-citados se ofenderem se não tiverem seus nomes na lista de saudações. Vaidade das vaidades.

Como nos parachoques de caminhão, “Pra que orgulho se a terra come?”.
O pior é que essa praga é contagiosa. No serviço público e, às vezes no privado, qualquer chefinho com meia dúzia de subordinados assume e puxa do bolso meio quilo de papel ofício com o texto.

Ao final, todos batem palmas freneticamente como se fosse o discurso fúnebre de Marco Antônio para o imperador Júlio César. Mesmo no particular, sempre tem alguém que diz “Como ele falou bem!” 

Para ter certeza que a Humanidade é um projeto que não deu certo, constate-se que os que fazem discursos fingem que aquilo tudo é sincero e os que ouvem fingem que acreditam.

Já foi pior. Na política dos anos 1930 até 1960, o orador tinha que falar com vibrato na voz como se estivesse cantando. E a plebe ignara aplaudia aquele desvario que se ouve nas gravações de Getúlio Vargas e outros políticos “pooovooo da minnnha terraaa”. Mas foi na época em que se amarrava cachorro com linguiça.

Os cachorros ficaram mais sabidos. O povo não.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »