A morena do outro mundo
Viajar de avião até os anos 1980 era um luxo. As mulheres usavam chapéus e os homens caprichavam na gravata. O serviço de bordo nos anos 1950 e 1960 em nada ficavam a dever a restaurantes finos. A ilustração fala por si só, a variedade era de encher os olhos. Algo que sempre deslumbrava era a beleza das aeromoças – só os homens eram chamados comissários.
O primeiro Boeing 707 da Varig chegou em Porto Alegre em 1959. Foi o primeiro jato quadrimotor realmente confiável. Voava a mais de 930 Km/hora. A empresa promoveu uma visitação pública, e naturalmente eu estava entre os primeiros da enorme fila. Entrava-se por uma porta e saía-se por outra.
Com 16 anos e apaixonado por aviação, demorei um tantinho a mais na entrada para ver o cockpit. Na base do vai em frente que atrás vem gente, achei que tinha visto o principal. Não tinha. Sentada em uma poltrona de corredor na metade do 707, uma aeromoça lindíssima folheava displicentemente uma revista. Rapaz, cheguei a fraquejar os joelhos.
Nunca tinha visto beleza igual. Que Brigitte Bardot, que Sofia Loren, que nada. Aquela era uma deusa, morena, pele jambo, de baiana. E deu uma olhadinha dessas sem querer. Empaquei como mula e só saí do lugar porque o cretino atrás de mim me empurrou, o fiadamãe.
Fiquei semanas com a imagem dela na cabeça. Se ela sorrisse para mim, mesmo que por um átimo de segundo, eu seria o homem mais feliz do mundo. Mas quem disse que o mundo era justo?