A  grande sacanagem

5 jul • A Vida como ela foiNenhum comentário em A  grande sacanagem

Na história dos cabarés do início dos anos 1960 em diante, houve uma evolução gradativa que resultou em casas noturnas mais explícitas, digamos assim. Cabaré que se prestasse, naqueles anos, eram sempre em casas, nunca em apartamentos, nem havia mulheres de trajes íntimos. Nem mesmo short elas usavam. Cada bairro tinha a sua, e por óbvio no Centro não. Praticamente todos os cabarés tinham pista de dança, é era ali que começavam os trabalhos. A moral da pensão assim o exigia.

Lygia, Má Griffe, Dorinha, Mônica, Miriam, Marlene, Cabaré da Serraria, Castelinho Verde, eram os mais proeminentes. Quase todos os bairros tinham os Dois Leões, porque os arquitetos da época costumavam colocar dois destes animais um em cada lado do portão da entrada. O protocolo incluía um porteiro/segurança, um ou uma gerente e garçom. Maioria disponibilizava quartos, motéis era raridade. E sempre com faxineira/arrumadeira de plantão.

Histórias sobre cabarés, amores feitos e desfeitos, grandes paixões que eventualmente acabavam em casamentos de papel passado faziam parte desse mundo. Clientes aprontando e sendo expulsos também. Algumas envolvendo a granfinagem eram sussurradas em bares e rodas de papo. Outras eram contadas a céu aberto, às gargalhadas, como esposas que seguiam ou mandavam seguir os maridos e os tiravam do recinto arrastados pelas orelhas, barracos ficcionais.

Uma dessas histórias foi sobre o primeiro cabaré “automático” da Capital. O cliente entrava por uma porta, deixava o dinheiro num guichê discreto. Um cartaz dizia que ele deveria tirar toda a roupa e deixá-la num armário com chave. Logo depois de um corredor curto, havia duas portas, cada uma com o tipo da mulher desejada, loiras, morenas, depois outras duas portas com dizeres “altas” ou “baixas”. Nas últimas duas, as opções derradeiras, “muita sacanagem” e “pouca sacanagem” – 100% entravam na primeira.

A porta dava para a a rua com a calçada apinhada de gente, pessoas  escandalizadas olhando o homem nu como ele veio ao mundo. Realmente, uma grande sacanagem.

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Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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