A falência das novidades

29 dez • NotasNenhum comentário em A falência das novidades

Tive um despertador analógico pequeno, por mais de 15 anos, até ele morrer de morte morrida. Barato e bom, a alça para acionar ou desarmar o alarme ficava na vertical, bem à mão. Também na frente e tinha um botão que uma vez acionada iluminava o visor. Custou pouco, muito barato.

De posse da certidão de óbito do falecido fui na Galeria do Rosário comprar um igual. Não fabricam mais, disse o atendente. E me sugeriu outro maior sem a alça – para acionar só atrás – e sem luzinha que tanto me ajudou nas madrugadas.

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Os antigos telefones da Samsung dispunham de uma luzinha azul que piscava em caso de chamada não atendida. Algum sádico o retirou dos novos modelos. Maldição.

Tudo que é novo vem pior nessas geringonça eletrônicas. Ninguém mais mantém o que era bom porque esses geniozinhos se apaixonam por novidades sem se questionar sobre suas funcionalidades. 

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Momento culinário…

As casas que servem o nhoque, ou gnocchi em italiano, devem servir o último do ano. Sempre leio que a efeméride traz sorte e, por isso, chama-se nhoque da sorte.

Está na hora de ver com os apreciadores desse prato se eles alguma vez tiveram sorte depois de comer um. Se tiver, sou candidato. Mas acho duvidoso que um montinho de farinha amassada em forma de bolinha tenha esse poder..

…e outros devaneios

Comidas capazes de fazer milagre existem às dúzias. Ervas, então, curam desde unha encravada até depressão e câncer. Entre os milagres, existem as promessas de dar tesão aos que as ingerem em infusão ou cápsulas.

No Nordeste, falam em uma planta rebatizada de A Flor de Zíaco. No Mercado Público de Porto Alegre, os vendedores de ervas milagrosas oferecem uma chamada Nó de Cachorro, assim chamada pela semelhança com o pênis ereto, que assim permanece, mesmo após aventura amorosa como uma cadela.

Sobrenatural natural

A ciência explica que essa prontidão canina se deve porque, ao contrário dos humanos, o órgão sexual canino tem uma cartilagem no seu interior, que precisa de um certo tempo de descanso para voltar à forma original. Como sempre digo, tudo é natural, inclusive o sobrenatural.

Estradas de chão batido

Como eu gosto delas! Ficam em áreas que o “progresso” só chegou em termos. Elas são solitárias e amigas, suas laterais estão cheias de arbustos e árvores. À noite o ar bucólico é mais acentuado.

Lembrei da minha infância, trajetos feitos com automóveis que trafegavam a 40 km por hora, no máximo. Faróis que eventualmente refletiam os olhos assustados de algum animal, corujas de olhos arregalados e lentes cruzando a frente do carro.

Sim, tinha a poeira. Mas o que é isso perto de  sinaleiras chatas, de mordedores querendo limpar o parabrisa que já está limpo, assaltantes de plantão e o medo acompanhado do asfalto esburacado. Viva as estradas de chão batido do interior dos interiores.

Quando prefeitos de pequenas cidades pedem asfalto ao governo do Estado, podem ter certeza que o passo seguinte será pedir quebra-molas.  

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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