A cara depois das bocas

17 out • NotasNenhum comentário em A cara depois das bocas

Foto: CanvaPró

Tarado que sou por comportamentos humanos, tenho na memória uma cerebroteca de expressões corporais e faciais de toda ordem. Ultimamente, fixei-me nas expressões dos Chefs e cozinheiros ou provadores de comida dos trocentos programas de culinária nas redes de TV por assinatura.

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Primeiro é preciso dividir por países. Os americanos, fiasquentos como eles só, fazem um curta metragem facial sobre o que sentiram nas papilas gustativas. Já os europeus são mais comedidos. Os brasileiros tentam copiar os chefs dos estateites.

Comandantes de fogão

A segunda divisão é entre homens e mulheres. De novo, os homens-cozinheiros extrapolam por motivos óbvios. Afinal, eles se julgam atingidos pelo dedo de Deus mesmo que o prato seja uma tigela de arroz sem nenhum tempero.

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Uma fração antes de sentir o gosto do que acham ser divino prato, olham para cima, reviram os olhos, dão meia volta e, com a boca cheia, fazem hummmms e hammmms. De novo, as mulheres são mais discretas nas interjeições e contorcionismos faciais enquanto a boca estiver cheia a mastigar.

No tempo da mamã

No passado, nossas mães, avós e tias limitavam-se a dizer “É da pontinha!”, expressão que nunca entendi bem de onde veio. Acho que deve ser a verbalização dos cinco dedos em forma de flor fechada tocando os lábios.  Já os italianos, esses, sim, os mais fiasquentos do planeta, abrem a tal rosa e parece que tentam separar dedos da mão. Dez entre dez italianos exclamam  “mamma mia!”, mesmo se não forem eles que cozinharam.

Por isso que italiano dificilmente morre afogado, mesmo sem saber nadar. Ficam gesticulando, parlando, parlando, e o agitar dos braços funciona como remo. Facilita e eles atravessam o Oceano Atlântico, parlando, parlando.

E a gauchada?

Bueno, em geral, churrasqueiro não faz caras & bocas. Apenas dá tapas na mesa quando recebem um elogio, acompanhado de um sorriso de orelha a orelha. Agora vem uma mudança extraordinária em relação aos americanos. Se estes levantam os olhos como que agradecendo a Deus, mulher que recebe elogio pelo prato olha para baixo, fingindo estar encabulada. Às vezes, até ficam, mas são cozinheiras de família quando recebem elogio de visita. 

O fogão mágico

Contaram que existe um fogão alemão que dispensa panelas. Custa uma grana federal e tem a particularidade de cozinhar todos os alimentos de forma que fiquem prontos ao mesmo tempo.

E aí vem uma cultura inútil que não é tão inútil assim. Carnes assadas perdem em torno de 30% a 40% da proteína, perda que fogão alemão não tem. Segundo um desses pilotos de fogão, perdem no máximo 4%.

Confesso que não sei nem fazer ovo cozido. Nunca acerto o tempo. E gosto deles de qualquer jeito, mas o ovo meio molengão em uma xícara ou copo e nele mergulhando uma vareta grossa de pão. Ai, meu Deus, só precisa uma pitadinha de sal para ser divino.

Conselho de veterinária

Da minha filha Fabíola: nunca coma hambúrguer mal-passado se quiser evitar germes ou micro-organismos outros assemelhados. Acontece que, ao misturar a carne crua, de uma forma ou outra, a manipulação sempre transporta bichinhos.

Mosca na sopa: alguns germens são termorresistentes.

E o bife, pode comer mal passado? Esse pode, segundo minha geniazinha. Na chapa, espeto ou panela, os mesmos germes ficam do lado de fora da peça. Só precisa calor alto para matar a maioria, já que, no miolo da carne, eles não entram.

Delírios possíveis

Chefs, prestai atenção. Não inventem a roda. Façam o trivial bem feito, que serão aplaudidos. Nada de pastel de bergamota com pinhão. Estraga os dois. Acho que, algum dia, vão inventar suflê de bolota de cinamomo ao suco de uva misturado com óleo de mamona, com caldo de peixe e cobertura de sagu.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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