O olho do vereador
Há coisa de três anos, o vereador Bernardino Vendruscolo teve um sério problema no olho, que exigia a urgente extirpação do globo ocular inteiro. Bem, fazer o quê. O edil encarou. No dia da cirurgia, dirigiu-se ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Assim que o viu, o médico perguntou como ele se sentia, se estava preparado para a cirurgia.
– Pergunta errada, doutor. Eu é que lhe pergunto como o senhor está. O senhor dormiu bem, nada o aflige, está calmo?
Conhecendo o vereador, o cirurgião entrou no jogo. Depois que teve a garantia de que estava tudo bem, Vendruscolo voltou à carga.
– Qual o olho que o senhor vai operar?
– O direito, é claro, o que está com problema.
– O direito como o senhor me vê ou o meu direito?
– O seu, claro.
O paciente respirou fundo.
– Doutor, quero que o senhor marque o olho que vai tirar. Quero ter certeza de que não vai ter engano.
Veio uma enfermeira e fez um risco com a esferográfica acima da sobrancelha. Bernardino reagiu.
– Só esse risquinho? Eu quero que seja marcado com pincel atômico em toda volta!
Lá se foi a enfermeira atrás de um pincel atômico. Achou. Fez um círculo em torno do olho.
– Bernardino, eu vou ter que tirar essa marcação na hora da cirurgia – falou o médico.
Mas não tira tudo. Deixa um pouquinho.
A cirurgia foi um sucesso. O vereador usou um tapa-olho durante algum tempo e mais tarde colocou uma prótese.