Manoel dos 30
Se existiu um sujeito que se virava nos 30 era o Manoel Nascimento, 71, falecido domingo. Era uma figura conhecida no Centro de Porto Alegre desde o início dos anos 1970. Como podem ver pela foto, Manoel nasceu sem braços, mas nem por isso desistiu. Começou a vender bilhetes da Loteria Federal e depois as loterias da Caixa.
Fiz uma nota com foto dele na página 3 do Jornal do Comércio de Porto Alegre dia 29 de março, mostrando que ele era um exemplo para muita gente que desiste da vida mesmo sem nenhum problema físico. Agora imaginem a dificuldade que o Manoel tinha na administração do dia a dia, desde se vestir, comer e beber e outras atividades corriqueiras – para nós.
Manoel, escrevi, foi à luta, se virou nos 30. E sempre com um sorriso, como se observa na foto. Nunca desanimou e nem maldisse a vida que o fez nascer assim. Suas camisas tinham dois bolsos. Em um, guardava o dinheiro e troco para quem escolhia os jogos da Caixa, que ficavam no outro bolso. No dia em que o fotografei, perguntei se ele alguma vez foi passado para trás.
– Não que me lembre – falou.
Gente como o Manoel sempre me comove. Em vez de ficar choramingando nas calçadas, arregaçam as mangas. Vale para todos os portadores de alguma deficiência, incluindo os que praticam esportes. É gente fora do comum, pontos fora da curva.
Meus respeitos, seu Manoel.