As bolachas da cachaça
Outra história que teve cenário o Bar e Rotisserie Pelotense, na rua Riachuelo entre Borges de Medeiros e General Câmara. Com suas mesas de mármore e ventiladores de teto, abrigava alguns personagens conhecidos da Capital, entre eles um professor. Ele entrava rápido, sentava atrás de uma coluna e pedia dois copinhos de cachaça de uma vez só.
No primeiro, o garçom Lope Rega servia uma marca comum, dessas bem baratas; o segundo era preenchido por uma marca premium bem carinha, uma das poucas que existiam à época. A contagem era feita por bolachas de chope. Para não fazer confusão na hora de pagar a dolorosa, ele pedia duas bolachas, uma para cada marca, na proporção de duas por uma.
Em dias em que o professor estava mais sedento a pilha já era como edifício baixo, mas que já precisava de elevador. Dono de elevada cultura, passava a discorrer sobre fatos históricos que dominava muito bem. Fumante, tinha o hábito de segurar o cigarro entre os dedos com o braço voltado para trás, que em seguida ele deixava cair para pegar outro do maço. Era uma cena curiosa, um freguês com duas pilhas de bolachas de chope na mesa e no chão um bom número de cigarros parcialmente fumados.
Uma única vez o professor saiu do sério. Foi quando inadvertidamente outro garçom misturou as duas pilhas, Foi uma declaração de guerra. O infeliz teve que ouvir uma preleção de como era importante para ele servir cachaça com duas pilhas de bolachas. Quem ouviu não entendeu nada.