Os heróis de cada um
Do jornalista William Waack, do Estadão:
No dia em que Michel Temer organizou uma cerimônia para lembrar seus dois anos de governo as atenções estavam em Nova York, na entrega de um prêmio como personalidade do ano ao juiz Sérgio Moro. E na reprodução incessante de um vídeo no qual uma corajosa mãe PM mata um bandido assaltante na porta de uma escola na Grande São Paulo. Um símbolo perfeito para o estado atual da política brasileira. O que o governo diz que tem para mostrar importa pouco, muito menos nas eleições. Os heróis não são da política – ao contrário, são os que resolveram passar as coisas a limpo.
O povo, ora o povo
O que tem em comum a análise de Waack, para mim um dos melhores jornalistas brasileiros, com o que o povo e as minorias pensam sobre determinado assunto ou fato, é a diferença abissal de julgamento. Discurso contra a violência, qualquer violência, mesmo que a expressão se coloque entre aspas e tenha sido feita por uma policial, é bom mas não dá camisa, como no samba de Adoniran Barbosa. O caso da mãe PM é típico para ilustrar os salvadores da pátria pelo verbo.
Teoria do Mandrake
Li e ouvi várias manifestações de intelectuais dizendo que a PM não precisava atirar para matar, que deveria ter alvejado o criminoso nos braços e pernas. Perfeito. Você é policial, entra em cena um criminoso que nada tem a perder, então você escolhe cuidadosamente braços e pernas e atira. Melhor, atire em um membro só. Meu sais, como diziam as madames da corte francesa. Quer dizer que para esses doutos o tempo pode ser congelado?
Mea culpa
Nisso nós -da imprensa- temos muita culpa. O grosso das redações também acha que policial pode escolher onde disparar. SE for ataque por arma branca, faca, nem precisa atirar, dizem esses especialistas em tiro ao alvo.
Injustiças aéreas
Essa mania de ser profeta do passado lembra o acidente com o Fokker 100 da TAM, em Congonhas, quando logo após a decolagem o reverso de uma das duas turbinas abriu sem o painel acusar o defeito. A TV e jornais caíram de pau em cima da tripulação, dizendo entre outras barbaridades, que os pilotos tiveram tempo para corrigir o erro. Tempo, no caso, foi 3 ou 4 segundos no máximo.
Especialistas sem especialização
Segundo as autoridades da agência americana que investiga acidentes aéreos, a NTSB, o tempo de reação dos pilotos entre detectar uma anormalidade não registrada no painel é de 12 segundos, em média. Na época, comentei com o comandante Rolim Amaro, fundador da TAM, com quem eu tinha em comum a idade e o fato de termos começado a voar em aeroclube no mesmo ano: um piloto estuda Teoria de Voo durante um tempão, e um repórter de TV ou jornal só precisa de alguns minutos para saber mais do que eles.
Com relação à tua nota “Especialistas sem especialização”, só tenho a dizer que me senti muito bem representado, para utilizar um jargão “semi moderno”. Estudei cinco anos na faculdade de direito, mais dois em pós graduação, convivo no mundo jurídico há exatos quinze anos, e quando abro o facebook, sempre tenho a impressão de que aquele meu amigo engenheiro, corretor de imóveis, motorista, ébrio eventual, etc., sabem muito mais das letras jurídicas que eu. Em especial quando o assunto é referente a políticos presos/presos políticos.
Hora da labuta, encerro por aqui minha leitura obrigatória de todas as manhãs.
Abraços
Obrigado pela leitura. Abraço.