O croquete e o fugu
Houve tempo em que, na Rodoviária de Porto Alegre, existia a churrascaria Gauchão, bem razoável, que incluía um bufê. Há anos, ela fechou e hoje, se o viajante quer comer comida de verdade e não aqueles lanches insossos, fica sem opção. Comer em Rodoviária é quase sempre caro e com baixa qualidade, que não era o caso da churrascaria em tela. A questão é que na maioria das lojas da nossa, em Porto Alegre, são aqueles sanduíches e torradas sem graça e caros como o diabo. Mas, é aquela coisa: não tem tu, vai tu mesmo.
Não conheço tantas Rodoviárias do Interior para traçar um perfil, o que eu posso dizer que a de Alegrete tem um restaurante BB – bom e barato. Um a la minuta dá para uma família inteira, com a vantagem que você fica amigo dos donos. O folclore dessas estações é grande. Nos anos 1990, dei de cara com a Rodoviária de Campo Bom. Chamou minha atenção um aviso no bar-lancheria:
“Não vendemos aperitivos antes das 11h30min.”
Imagino a pressão que o arrendatário do ponto deve ter recebido de mulheres e patrões irados com os caras chegando altos no batente ou, no caso das mulheres, chegando bêbados e chatos em casa para desmaiar – gambá não dorme, desmaia. Pior, sem comparecer às obrigações conjugais. Bafo de tigre louco acaba com qualquer tesão.
Existe também aquela forma de se depreciar pastel e croquete destes terminais, tipo “pior que pastel de Rodoviária”. Pois aí eu brigo. Eu sempre estou atrás do pastel perfeito e posso dizer que pastel de Rodoviária é muito melhor do que esses metidos a besta, ideais para não serem comidos, daí a preferência da mulherada em comê-los. Coisa sem gosto, sem alma. Pastel de rodoviária, ponto.
Quanto ao croquete, bem, ele é muito bom, na maior parte das vezes, mas é como aquela iguaria japonesa, o peixe fugu. Se o chef não tirar direito a glândula de veneno dele, você vai rápido para o céu dos japoneses.