Picadinho de rico
Quando o estrogonofe virou moda, só casamento de rico tinha esse prato, – todo mundo se extasiava com essa ostentação – oh! teve até estrogonofe, imagina que fortuna custou esse casório! – não demorou muito para que pobre virasse o nariz e esculhambasse de vez com a pretensa iguaria chamando-a de picadinho de rico. Hoje, periga ter estrogonofe até em comida de presídio.
Quando surgiram as garotas de programa que se “viravam por fora” passaram a anunciar nos classificados dos jornais, meados de 1980, tudo era pudico. O alô my boy era dado na seção de Recados da ZH. Depois viraram escorts, coisa chique, e por fim o asséptico acompanhantes. Mas tudo era, como dizer, “picadinho de rico”, que pobre podia a cozinhar no fogão de duas bocas do barraco.
Vocês devem ter ouvido falar que criaram um site de relacionamento Meu Patrocínio para relacionamentos virtuais – cercados de toda a segurança, onde se exige até negativa da Polícia – entre Sugar Babies (mulheres jovens e bonitas) e Sugar Daddies (homens ricos e maduros). Ora, ora, é a volta do antigo coronel, o que bancava a amante alugando pra ela um apê – coisa de pobre – ou garçonnière – coisa de rico -, pequeno apartamento para encontros amorosos.
O nada discreto Meu Patrocínio nada mais é que a volta do antigo coronel. A diferença é a aproximação é virtual, mas o combate de Eros no passado, presente e futuro é carnal. E ontem como hoje, entra grana na jogada. Para amaciar, podemos dizer que que é uma contrapartida. Como já dizia o dramaturgo Nelson Rodrigues, o dinheiro compra até amor sincero.