• Estatização no Brasil é como mamilo de homem: não é útil nem ornamental.

    • Roberto Campos •

  • O dom da infelicidade

    Publicado por: • 8 ago • Publicado em: A Vida como ela foi

    Na esquina da Rua do Passado com o Beco da Solidão, escondem-se causos que murmuram coisas de amores desfeitos na boca como algodão doce. É triste para boa parte da humanidade, se você pensar bem. De verdade, diga-me quantas pessoas das suas relações, incluindo você, tiveram uma vida pródiga, com amor ou amores que fizeram tudo valer a pena e nenhum estilhaço de solidão a atormentá-las?

    Há cálculos que chegam a 100 bilhões de almas que viveram na Terra desde o aparecimento da raça humana tal como a conhecemos, não mais que 6 ou 7 mil anos e apenas 5,5 mil anos desde a primeira civilização que deixou registros, a dos sumérios. Tirando os sem-noção, para ser bem franco, poucos poderiam dizer que viveram uma vida que nós chamados de boa e feliz.

    Certamente, não foi o caso de um preso que conheci no porão da 8ª DP, logo após ele abrir as celas dos colegas para uma fuga em massa. Foi nos idos de 1969, ano em que uma onda de assaltos deixou a cidade em pânico. Alertado por um telefonema que eu não deveria ouvir, mas ouvi na sala do Plantão da Polícia Judiciária, fui com a viatura da ZH rumo à Protásio Alves.

    Em lá chegando, entrei direto para os fundos do prédio, segundos antes de passarem o cadeado no portão para evitar a entrada de bisbilhoteiros como eu. Deparei-me – do lado de dentro de uma das celas – com um sujeito magro, faces crestadas pelos elementos e pelo sofrimento. Mas o que houve? Por que não fugiste como os outros?

    Até hoje recordo a cara de infelicidade dele, que chegava a ser sólida ao toque. Por bom comportamento, os policiais o encarregaram da limpeza das celas e, para isso, ele tinha a chave-mestra. Então os bandidos primeira-linha pediram que ele “perdesse a chave”. O resto dá para imaginar. Só que, em vez de levá-lo junto, trancaram-no numa cela.

    Imagina a recepção que teve dos tiras quando descobriram como se deu a fuga. O pior é que nem lembro do nome dele. Pensado bem, talvez seja melhor ter esquecido.

    Um fantasma sem nome é melhor que um com.

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  • O sangue cansa

    Publicado por: • 7 ago • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    O jornalista Miron Neto, que mantém um blog com seu nome e atua na região da Serra das Hortênsias do RS (Gramado e Canela), tomou a decisão de não mais publicar notícias policiais. “Hoje, existem outros colegas com colunas digitais e que possuem maior intimidade com a crônica policial”, escreveu. Já tínhamos conversado sobre o assunto e entendo bem a posição dele, mas acho que todos nós cansamos deste tipo de noticiário.

    A informação que dói

    Não quero com isso dizer que toda a mídia tenha que descartar a reportagem policial, mas o fato é que nós nos deprimimos tão logo lemos o jornal ou vemos imagens de TV. Aliado à insegurança, as pessoas querem é fugir do tema, fazer de conta que não existe – o que não é visto não é lembrado, diz o ditado.

    O domínio da polícia

    Tenho saudades da Globo quando o foco policial era secundário, mas hoje a Globo parece ter optado pela polícia, para resumir. Já escrevi aqui que um grande jornalista (ainda vivo) dizia, nos anos 1970, que “a função do jornal era alarmar o povo”. Falou isso meio sério, meio brincando. Eu já diria isso a sério.

    Mortes no viaduto I

    Há uma história exemplar dos anos 1960. O local onde havia mais suicídios era no Viaduto Otávio Rocha, na avenida Borges de Medeiros, Centro de Porto Alegre. Eles se atiravam do alto da rua Duque de Caxias. Suicídio naqueles tempos era cobertura normal.

    Mortes no viaduto II

    Na segunda metade dos anos 1960, os editores de reportagem policial dos seis jornais diários de Porto Alegre se reuniram e decidiram não mais noticiar suicídios, salvo se fossem pessoas famosas. Resultado: praticamente caíram a zero os suicídios nos altos do viaduto da Borges. Eu sou testemunha porque era repórter na época. Tirem suas conclusões.

    Tudo pela audiência

    A minha conclusão é que estamos exagerando na cobertura. Não que queira censura, mas que devemos repensar as matérias policiais. Como na TV, estamos dando sangue ao povo como se fosse ordem das massas famintas que vão ao Circo Brasiliensis.

    Nota de pesar

    A Editoria Abril fechou boa parte dos seus títulos dirigidos ao público feminino. A Casa Cláudia é uma delas. A empresa também fez um corte drástico no quadro de pessoal, com 800 demissões. Claro que ninguém demite tanta gente porque quer, mas fico triste com isso.

    Como era verde meu vale I

    Quem, como eu, viveu tempos de pujança jornalística e, em especial o jornalismo impresso, não tem como não se deprimir com o quadro atual. Falei acima, nós tínhamos em Porto Alegre seis jornais diários, pleno emprego. A ponto tal, que alguns jornalistas trabalhavam em mais de um veículo, impresso, saliento, fora a TV e rádio.

    Como era verde meu vale II

    Todos os grandes jornais (e revistas) brasileiros nos anos 60/70 tinham sucursais em Porto Alegre, todos, e com redação completa. O Rio Grande do Sul tinha não só peso maior no PIB nacional como sua importância política era ampla e irrestrita. Para se ter uma ideia, a primeira sucursal que o jornal O Globo abriu foi em Porto Alegre.

    Cui prodest

    Ou “a quem interessa” serve como uma luva para o suposto atentado com drone ao quase ditador venezuelano Nicolás Maduro. Se já perseguia e prendia, agora tem como desculpa esse atentado para radicalizar e endurecer ainda mais o falido regime. Óbvio que ele acusa os americanos, mas não sei não.

    Salve-se quem puder

    Seja quem foram os autores, as imagens que mostram a debandada dos militares que estavam no desfile dá uma ideia de que, na hora da onça beber água, não há chavismo que resista.

    Expoagas 2018

    Acontece, de 21 a 23 de agosto, no Centro de Eventos Fiergs, em Porto Alegre. Até o dia 17 de agosto, varejistas de todos os segmentos (supermercados, padarias, bares, hotéis, restaurantes, petshops, lojas de bazar e outros CNPJs de varejo) têm isenção nas inscrições.

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  • É preciso folhear meia biblioteca para escrever um livro.

    • Doctor Samuel Johnson •

  • O petit gateau

    Publicado por: • 7 ago • Publicado em: A Vida como ela foi

    O Zezinho do restaurante Gambrinus, do Mercado Público, é um dos mais antigos garçons de Porto Alegre. Não está na pole position, longe disso. Mas começou cedo e segue na batalha. Está há 32 anos na casa. Só teve um pequeno contratempo cardiológico ano passado, prontamente corrigido pelo kid nessa área, o doutor Fernando Lucchese. Os intrigantes insinuam que, há anos, o Zezinho tinha colocado não um stent, mas uma mola do caminhão Mercedes Benz 1313.

    Nos tempos da gloriosa Tia Dulce, dos anos 1960/70, da avenida Independência, Zezinho atendia um público gay VIP, uma sala fechada cuja entrada era vedada aos mortais comuns. Zezinho é um túmulo quanto a nomes e personagens da high society, que jantavam ou bebiam naquele recanto sagrado. A maioria era conhecida, por isso, o desejo de permanecer no armário.

    O Zezinho, José Carlos Lopes Tavares, nascido e criado em Bagé, para que não pairem dúvidas, não é um sujeito alto, maneira polida de dizer que ele é baixinho. E tem aquela cor típica de fronteiriço puxado para mouro, que se miscigenaram com os espanhóis e deram com os costados na Fronteira.

    Certo almoço, um dos clientes perguntou ao falecido garçom Vovô se o Gambrinus tinha sobremesa. Claro que sim, falou ele..

    – E qual sobremesa recomendas?

    – Petit Gateau – falou Vovô.

    – Então traga uma.

    Vovô apontou com a ponta do queixo o Zezinho, postado inocentemente na porta do restaurante.

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