O pinheiro arrependido

4 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em O pinheiro arrependido

Lua cheia no meio do nada é uma das coisas mais bonitas de se ver nesse mundo eletrificado. Quando era criança em São Vendelino, todos queriam subir no Morro da Canastra para ver as luzes distantes de Porto Alegre, mesmo que só se visse uma claridade desmaiada. Os homens e as mulheres, todos colonos, sonhavam com a cidade grande. Como o pinheirinho que queria ser árvore de Natal e depois se arrependeu, do conto de Hans Christian Andersen, muitos que foram se estreparam. Quando voltavam, arrependidos, não eram mais ninguém.

Nós morávamos a 1 km da vila, então do armazém de secos & molhados do meu pai tinha vista direta para não mais que uma dúzia de casas. O moinho só gerava energia elétrica do anoitecer até as 22h. Depois, só lampião a querosene. Rádios, para quem tinha um, funcionavam com bateria de caminhão. Eu e meu irmão Paulo Cristiano ficávamos com os ouvidos colados no rádio AM para ouvir as Aventuras do Capitão Atlas, nas ondas curtas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. O som era precário, fugia. Até da interferência e do chiado lembro com saudade.

O que eu gostava mesmo era da lua cheia naquele mundo só meu. Quando todos já estavam dormindo, eu saía sorrateiramente da cama, ia para a rua de pijama e trepava no meu cinamomo de estimação para ver o luar banhando o vale e os morros. Sem nenhuma poluição ou luz artificial para me atrapalhar. Rapaz, tenho essa imagem na retina até hoje.

É chavão, é verdade, mas eu era feliz e sabia.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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