O petit gateau
O Zezinho do restaurante Gambrinus, do Mercado Público, é um dos mais antigos garçons de Porto Alegre. Não está na pole position, longe disso. Mas começou cedo e segue na batalha. Está há 32 anos na casa. Só teve um pequeno contratempo cardiológico ano passado, prontamente corrigido pelo kid nessa área, o doutor Fernando Lucchese. Os intrigantes insinuam que, há anos, o Zezinho tinha colocado não um stent, mas uma mola do caminhão Mercedes Benz 1313.
Nos tempos da gloriosa Tia Dulce, dos anos 1960/70, da avenida Independência, Zezinho atendia um público gay VIP, uma sala fechada cuja entrada era vedada aos mortais comuns. Zezinho é um túmulo quanto a nomes e personagens da high society, que jantavam ou bebiam naquele recanto sagrado. A maioria era conhecida, por isso, o desejo de permanecer no armário.
O Zezinho, José Carlos Lopes Tavares, nascido e criado em Bagé, para que não pairem dúvidas, não é um sujeito alto, maneira polida de dizer que ele é baixinho. E tem aquela cor típica de fronteiriço puxado para mouro, que se miscigenaram com os espanhóis e deram com os costados na Fronteira.
Certo almoço, um dos clientes perguntou ao falecido garçom Vovô se o Gambrinus tinha sobremesa. Claro que sim, falou ele..
– E qual sobremesa recomendas?
– Petit Gateau – falou Vovô.
– Então traga uma.
Vovô apontou com a ponta do queixo o Zezinho, postado inocentemente na porta do restaurante.
Só uma correção: mola do caminhão Mercedes Benz 1313, não são espirais, são molas planas e arqueadas…no mais, nem um reparo.
Conhecia várias histórias e estorias do Zezinho, mas já o conheci trabalhando em um buteco, no Mercado Público, o do Bagé.
O Zézinho me substituiu no Gambrinus, quando sai em 1979.