Buracos de informação
Volto ao tema. Com as redações magérrimas (em quantidade e qualidade), há um enorme nada na cobertura do que acontece no mundo. A vida continua, mesmo com o tudo fechado, sem falar nas catástrofes naturais. Mesmo a cobertura nacional foi deixada de lado para colocar todos os holofotes na Covid-19.
É como nos hospitais, que reservam mais da metade dos leitos para pacientes com o vírus. Os editores precisam cobrir a peste e não há tempo para um olhar mais abrangente. Nos impressos, os custos pressionam para edições com menos páginas, agravado pela queda na publicidade. Página sem anúncio não se paga. Papel, tinta e logística de distribuição, esse trio custa caro.
O xis do problema
Uma edição com muitos anúncios significa margem para investir mais em material humano. Essa massa crítica já não era lá essas coisas antes da pandemia, imagina agora. E se a torneira da publicidade legal do governo secou, a da atividade privada já foi bem mais aberta. Na real, esta secando.
A era do chumbo
A agonia dos jornais impressos me causa enorme tristeza. Crianças, eu comecei na era do linotipo, uma espécie de máquina de escrever gigante cujas teclas uma vez acionadas convertiam letras em tipos de chumho para posterior impressão, a chamada impressão a quente. Peguei os sucessivos melhoramentos do offset, impressão a frio, depois veio o computador, bem antes dos atuais.
Nos anos 1980, escrevi o Informe Especial de Zero Hora. Em 1985 o jornal foi o segundo do Brasil a informatizar a redação com máquinas especialmente desenhadas para os jornais. Não tinha mouse, o comando era por teclas. Mas funcionava muito bem. Nem existia a internet. Muita gente da RBS nem sabe desse pioneirismo.
Revolução abortada
Nos anos 1990, comecei a achar que os jornais estavam devendo. O jornalismo precisava se reinventar, uma revolução. Não estavam entregando o que o novo leitor queria ler, o que continua até hoje. Houve uma minirrevolta com o Jornal da Tarde de São Paulo. O gaúcho Marcos “Marcão” Faerman foi um dos pais da criança. Os repórteres e redatores escreviam textos sem se preocupar com a diagramação, ela que se virasse. Certo, era tamanho standard, como o antigo Correio do Povo, cabia um bocado de texto. Tabloide só deu certo em Porto Alegre.
Jornal na internet?
É como fantasia de baiana no carnaval. Tira as frutas e balaio da cabeça, dispensa colares, anéis, jujus e balagandãs, brincos de palmo e meio, as enormes saias com armação e o que sobra pode ser uma magrinha despeitada.
A história do tabloide
Por que o tabloide só deu certo em Porto Alegre é caso a parte. Era mais fácil de ler nos bondes e ônibus. Tipo mini guarda-chuva comparado com guarda-sol. Tivemos a Última Hora que mudou o nome para Zero Hora quando o dono era o carioca Ary Carvalho, que o vendeu para os irmãos Sirotsky em dezembro de 1969, mas só o assumiram de fato em março de 1970. Eu sei, eu estava lá.
Os tempos mudam
Eis um bom resumo dá ópera desses tempos discrepantes.
“Até alguns anos atrás, quando eu estava sentado em algum ônibus lotado, e entrava uma mulher, eu perguntava: você quer sentar? Todos me olhavam e me julgavam como um cavalheiro. Agora todos me julgam como um tarado sexual, pervertido. Lincham-me e, se sobreviver, serei processado por assédio sexual. Os “tempos mudaram”.
Bom dia, Albrecht!
Tens toda a razão nos comentários sobre os jornais e jornalistas. Acabei de cancelar a minha assinatura do Jornal do Comércio, que considero o melhor do RS. Mas não dava para aguentar mais. Copiam e colam notícias da Folha e do Estadão. Se quisesse estas informações, assinaria os dois jornais (a assinatura dos dois é mais barata do que do JC).
Acho que perderam o rumo. Quem assina o JC são pequenos empresários, comerciantes, contadores e empreendedores em geral. Mas as notícias são sempre catastróficas do vírus e nenhuma das coisas boas que o atual Governo Federal vem realizando mesmo lutando contra a maré dos que não lucram mais com ele. O PC Chinês comprou todas as redações. Parece que do JC também, infelizmente.
Vou te acompanhar por aqui.
Um grande abraço!
Roberto