Breve história do espanto
Até quase o final dos anos 1960, o linotipo era o coração da oficina de um jornal. Era uma máquina de escrever gigante que se alimentava de chumbo derretido, por ser este um metal com ponto de fusão muito baixa em relação a outros metais. Ao bater nas teclas, formava letras e números em sequência que depois eram alinhas em caixilhos de madeira para posterior impressão. Foi inventada em 1884 por um alemão chamado Ottmar Berghental (os alemães, sempre eles…). Foi uma revolução gráfica.
Cheguei a “datilografar” matérias curtas nas máquinas linotipo quando era repórter policial da madrugada, na Zero Hora de 1968. Quase sempre quando acontecia algum crime no momento em que o jornal começava a ser impresso – a redação era na Sete de Setembro, e as oficinas na Luiz Afonso, Cidade Baixa.
Quando aspirados, e não tinha como evitar a não ser com máscaras, os vapores do chumbo causavam uma doença chamada saturnismo, que entupia articulações, artérias e outros delicados mecanismos do corpo humano. Levava à morte no longo prazo.
Para os mais novos, acostumados com o QR CODE, este sistema não parece ser tão espantoso assim. Já nem falo em 1968, mas se nos anos 1980 alguém mostrasse um simples cartão de papelão bem fino com hieróglifos incompreensíveis e dissesse que um processo chamado escaneamento abriria automaticamente 50 ou 100 ou mais páginas de um documento, bem, seria levado para um psiquiatra. Aqui. Se fosse nos Estados Unidos ou na Europa, seria contratado por alguma empresa, para que ele mostrasse como é que se faz o furo da bala.
Mas tem uma coisa. No tempo da linotipo, o sistema não caía. O sistema éramos nós.
Foto: Osni Machado