O ônibus Brasil
Eu tentava ficar alheio a todos, então me fixei no panorama visto da janela. Não dava para ver muita coisa, os vidros estavam embarrados. Mesmo sem querer, ouvi o falatório de um sonhador, que dizia que uma tentativa de virar o ônibus teria apoio da cidade Estados Unidos, cujo prefeito era Joe Biden. Só podia ser morador do conjunto residencial Sem Noção.
Notei que a estrada estava muito esburacada e temi pela suspensão. Sabia que os pneus estavam carecas, o motor estava queimando óleo. Na frente do parabrisas havia uma fumaça branca subindo, sinal de radiador fervendo. A revisão tinha sido feito na oficina Seu Guedes. A estrada não tinha acostamento, com curvas fechadas, ora para a direita, ora para a esquerda.
Não dava para confiar no que dizia o luminoso interno, só registrava parte do itinerário. Nos bancos mais à frente, estavam sentados passageiros que moravam no bairro Suas Excelências. Com olhar olímpico e nariz empinado, traziam quentinhas com lagostas. Outras excelências vinham da cidade vizinha Mateus Primeiro os Meus, no entroncamento com a BR-2022.
Então me dei conta que, ao embarcar, li o letreiro externo para saber o destino final do trajeto do ônibus Brasil. Estava escrito: Lugar Nenhum.