A conta do seu Namir

5 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em A conta do seu Namir

Muito antes de se falar na necessidade da mulher conquistar seus espaços, um banco gaúcho, conservador pra mais de metro, abriu uma agência exclusivamente para mulheres. Com gerente e corpo de funcionários formado só por mulheres.

Homem não entrava na Agência Feminina do Banco da Província, na rua Marechal Floriano, um pouco acima da Riachuelo, Centro Histórico de Porto Alegre. Estamos falando de 1966, gente. Isso foi uma proeza adiante do seu tempo. Eu trabalhava nesse banco e conto o causo como o causo foi.

Havia um espaço na agência com cosméticos, penteadeiras e outros equipamentos, incluindo agulhas, linhas e outros armamentos que porventura fossem necessários e que as correntistas não tivessem à mão. Poucos anos depois, o Província foi vendido para o Montepio da Família Militar (MFM) que adicionou mais dois bancos históricos gaúchos (Sulbanco e Nacional do Comércio), que resultaram no Sulbrasileiro. O MFM foi para o espaço e, com ele, o novo banco, outra história que conto qualquer dia.

Ao lado da Agência Feminina do Província, havia uma agência comum, a agência Bragança, nome original da rua Marechal Floriano. Quem tinha conta nela era o pecuarista de Bagé Namür Paixão Suñe. Ficamos muito amigos na década de 1970. Certa feita, o Namir, como o chamávamos por causa do trema, mostrou-me um recibo do banco, mas antes de mostrar o documento, já gasto pelo manuseio de tantos humanos, relatou o início do caso.

Ele queria transferir dinheiro da sua conta em Porto Alegre para a conta na agência do Província em Bagé. Então explicou para o bancário no balcão que a grafia do seu nome tinha algumas particularidades, devidamente registradas pelo bancário. Em casa, conferiu o recebido da transação. Caiu na gargalhada. O bancário datilografou assim o seu nome.

 – Namur Utremado Paixão Sunhê Contil

A foto é do interior de uma das agências do Banco da Procíncia. Autor: Hugo Freylerp

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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