Um estigma causado pela hipocrisia

17 maio • NotasNenhum comentário em Um estigma causado pela hipocrisia

A escritora Isabel Allende escreveu o livro “Amor” (Bertrand Brasil), no qual entra fundo na crueldade que é chegar a uma idade em que o corpo já não atrai. “Neste momento das nossas vidas, Willie e eu estamos num desses umbrais, o da maturidade, quando quase tudo se deteriora: o corpo, a capacidade mental, a energia e a sexualidade. Que diabo nos aconteceu? (…) Certa manhã, nos vimos despidos no espelho grande do banheiro e ambos nos sobressaltam. Quem eram aqueles velhinhos intrusos em nosso banheiro?”

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É um belo resumo de uma tragédia universal, a velhice. Só quem chega a ela sabe o quanto é duro ver-se em fotos antigas e observar o que o tempo fez conosco.

Temos saudades do andar firme, da ausência de cansaço em longas caminhadas, de acordar bem disposto, olhar para a frente e ver toda uma vida que ainda virá. Sobretudo, as mulheres atraem a atenção dos homens e vice-versa.

Por isso que idosos dizem que não têm mulher feia de 20 anos. O script é conhecido, quem já dobrou o Cabo da Boa Esperança sabe que, pela frente, não há mais esperanças e que a borrasca será nossa companheira de viagem até o amargo fim.

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Não precisava ser tão ruim, não fosse um sórdido estigma. Homens que já passaram da meia idade, mas encontraram mulher mais jovem, são alvos de escárnio e reprovação de comadres fofoqueiras. Mulheres maduras que encontram rapazes jovens “não pode, onde já se viu, que pouca vergonha e blá blá blá”. Como se a felicidade, ainda que tardia, fosse proibida por – em boa parte dos casos – gente mal-amada que vê uma segunda chance dos outros como uma ofensa pessoal.

A velhice é um naufrágio, já disse o Marechal Charles De Gaulle. Pena que a juventude seja gasta com os jovens, disse o dramaturgo George Bernard Shaw. Homens e mulheres de segunda chance. assinariam embaixo.
Mudando  de saca para mala.

Os tempos malucos que vivemos já foram assim em várias etapas da história. No início do século XX, grassava uma epidemia de pessimismo especialmente na Europa,  Na tradução do francês, era chamado de mal do século.

Jovens, sobretudo, eram por ele acometidos e casos de suicídio atormentavam as famílias. Na história brasileira, os poetas de séculos anteriores, 17 e 18, cantavam essa desesperança em versos.

No Rio de Janeiro dos anos 1950, faziam sucesso as chamadas músicas de tormento, niilismo ao extremo. Hoje chamam a isso sofrência. Lembro de uma música em especial, de Antônio Maria;       

Ninguém me ama
Ninguém me quer
Ninguém me chama
De meu amor
A vida passa
E eu sem ninguém
E quem me abraça
Não me quer bem

Exageros à parte, esse é o drama de muitos homens e mulheres. Não à toa que a palavra “solidão” é uma das mais repetidas nas letras de músicas, inclusive porque rima com coração.

Sabem qual a pessoa mais sortuda do mundo? Aquela que não se leva a sério e consegue rir até das próprias circunstâncias adversas. Aquela que acredita que, em algum ponto do outro lado, ainda vamos rir de tudo isso. E então, sim, vamos rir para sempre,.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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