Um cabide, uma espingarda
Um cabide virava espingarda um cabide pequeno de atarrachar era um revólver, caminhão era feito (com imaginação, sempre) com três latas cheias de areia e puxadas por uma cordinha presa no meio das latas – não atolava nunca -, e um cinamomo com galhos em V era a moradia de Tarzan. Pena que nunca encontrei uma Jane para brincar juntos.
Quando meu pai visitou meus avôs na Alemanha, em 1952, trouxe-me um trator feito de lata. Brinquei até enjoar, fiquei deslumbrado.
Outro presente comprado na escala que o navio fez em Manaus chamava-se Contas e Lendas Amazônicas, com histórias do Caipora, que caminhava com os pés virados para trás, e a Uiara, deusa mortal que aparecia nas noites de Lua cheia no meio dos rios e seu canto atraía pobres mortais, que ela levava para o fundo.
Fiquei tão excitado com essa lenda afogadora que uma noite fui para o Arroio Forromeco, em São Vendelino, para correr o risco. Sem acordar meus pais e irmãos, caminhei até o arroio distante meio quilômetro por uma picada no mato.
Comecei a ouvir vozes, vi vultos nos arbustos iluminados pelo luar, e me dei conta que não valia a pena morrer afogado aos nove anos.