Todo poder à Parker
Parker 51 era uma caneta-tinteiro usada nos colégios boa, anos 1950. Outra marca bem conhecida era a Schaeffer. Na lateral, havia uma pequena alavanca de metal, que se abria para permitir o reabastecimento de tinta puxada por um êmbolo, vendida em vidrinhos da mesma marca. O “tanque” era de borracha, que tinha o desagradável defeito de vazar, manchando roupas e camisas. Depois apareceu o azul lavável. A Parker era objeto de ostentação. Enchia sozinha, bastava mergulhar a ponta no tinteiro, alguma coisa a ver com diferença de pressão & mecânica dos fluidos.
Então veio o progresso e, com ele, a tinta azul lavável. Problema: era cara, e nossos pais nem sempre tinham grana para comprá-la. Mas eis que o progresso trouxe a caneta-tinteiro Compactor, bem mais acessível, com corpo de plástico – a Parker era de metal. A Bic só apareceu muito mais adiante.
Para treinar caligrafia, usava-se uma caneta sem reservatório que precisava ser mergulhada no tinteiro. A tinta era Nanquim, preta. A pena era chamada de bico de Pato. Esparramava tinta no papel barbaridade. Tinha que dosar a pressão e encher intermináveis filas de a A, b B, c C, o alfabeto inteiro em folhas pautadas.
Dependendo da carga, da umidade relativa do ar e da sujeira na pena, era preciso usar o mata-borrão, um objeto de madeira em forma de meia-lua coberto com espesso papel absorvente na parte curva. Conto tudo isso para a geração atual saber como se escrevia antes da Bic e do teclado. Aliás, por um motivo que desconheço, as gurias escreviam as letras voltadas para trás e os garotos ao contrário. Está aí uma bela tese de doutorado.
A Bic está em extinção. Quando faltar energia para os computadores, teremos que aprender a escrever com carvão. Se ainda existirem árvores.
O brilhante escritor de ficção científica Isaac Asimov previu essa desgraça nos anos 1960. Estamos chegando lá. Leiam os contos da obra dele “Os nove amanhãs”.