Tempos cruéis, mas felizes

22 nov • A Vida como ela foiNenhum comentário em Tempos cruéis, mas felizes

Cruzei com o jornalista Ademar Vargas de Freitas, responsável pela minha entrada no jornalismo. Foi assim: estava eu cursando a Faculdade de Jornalismo, na segunda metade dos anos 1960, lutando para pagar contas com meu salário nada generoso do falecido Banco da Província.

Quando fui lanchar no bar do Centro Acadêmico, do português Antônio, o Ademar vinha saindo. Ele trabalhava na ZH, posição que hoje lamentavelmente não existe mais nos jornais, o copydesk. Revisava o texto dos repórteres e corrigiam erros de concordância, essas coisas.

Então ele falou que havia uma vaga para foca – estagiário na época – para a reportagem policial.       

– Boca entaipada, Fernando, é barra pesada. Mas é a porta de entrada melhor que existe para ser bom repórter… 

Quem assim falou foi Vilmo Medeiros, editor da Reportagem Policial. Comecei no dia seguinte, da meia-noite até 7h da manhã. E, nos finais de semana, só uma folga por mês.

Não foi bolinho. Além da bandidagem forte da época, a ZH era malvista pela Polícia Civil, Brigada Militar, militares e até por leitores que não gostavam da linha editorial, com ênfase na reportagem policial.   

Fiquei assim: acordava às 7h e ia para a faculdade: saía ao meio-dia correndo para o banco, que, na época, funcionava das 12h30min até 18h45min, com expediente externo das 13h até 17h. Duas horas de sono, esquenta os tamborins por volta das 23h na redação.   

Eu não dormia, desmaiava. Pesava 60 kg apenas para 1m79cm. Mas foi um dos melhores tempos da minha vida. Sobrevivi até a coquetel  Molotov e espingarda calibre 12 na cara, apontada por um dos 10 criminosos mais procurados pela Polícia. 

Mas essa já é outra história…

https://www.brde.com.br/

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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