Seu Narciso não é fácil

27 dez • NotasNenhum comentário em Seu Narciso não é fácil

Churrasquinho em calçada acontece até em bairro rico. O rapaz da foto fez o seu e fê-lo para consumo próprio e não para vender. Quando perguntei o nome dele e ele falou Narciso, o amigo que me acompanha fez a piada pronta que o assador em causa própria já deve ter ouvido um milhão de vezes.   

– Você é muito narcisista…   

Fosse comigo, dava uma espetada nele.


A fuga da promessa feita

Faz parte da natureza humana não cumprir promessas depois que o milagre foi feito ou quando de uma graça é alcançada. Crianças que juram para o Papi Noel que vão se comportar como nunca dali em diante, que jamais farão desfeita para papai e mamãe, que ajudarão a mamãe nas tarefas caseiras, principalmente na coisa chata que é lavar e secar louça. Foi um dos meus tormentos quando passava as férias de verão e inverno na casa do meu tio Sireno. Como ele e a tia eram linha dura, nenhuma desculpa era aceita.

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Os adultos também fazem o mesmo. Rezam como  nenhum santo jamais rezou quando da necessidade extrema e esquecem do prometido tão logo o milagre se fez. Quando o Diabo tomou conta, pediu a Deus que lhes desse os políticos para contribuir para o foguinho sempre aceso do inferno. E como de boas intenções o inferno está cheio, os que acreditam nesse lero-lero também poderiam estar no braseiro, talvez com um pouco de água de vez em quando.

A lógica dos demônios

Quando algum criminoso fica na mira do tira também se arrepende do que fez e até do que não fez. Vemos cenas em filmes mais realistas quando um bandido leva bala. Nas vascas da agonia, ele se arrepende de tudo. Arrependimento que cessa tão logo ele escape da morte certa.

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Dizem que quando os demônios internos veem que o hospedeiro vai dessa para uma pior, saem do seu corpo. Mas voltam tão logo a medicina o salve.

O sábio Doctor Johnson

Políticos e governantes são diferentes. Quanto mais mentiras pregam, mais os demônios se instalam como carrapicho em blusão de lã. Aí que vem a parte mais interessante. Quando flagrados em algum malfeito, usam como desculpa que fizeram tudo em nome do país. Como escreveu o notável Doctor Samuel Johnson, o patriotismo é o último refúgio dos patifes. 

Moral de cuecas

Não pense que esse comportamento é só dos homens públicos. Nós fazemos o mesmo. Quem critica as fraudes de agentes públicos – e como as há! – dá curva em caixa do supermercado se ele ou ela não estão prestando atenção na falha.

Comum a todos os públicos especialistas em meter a mão no que não é seu, arrependem-se não pelo malfeito, mas porque foram pegos. A propósito: o Brasil é um dos campeões em  furtos de supermercado. Nossa moral é moral de cuecas.

Alguns povos conseguem escapar desse círculo e reduzem a rapinagem a níveis toleráveis, como países europeus. Outros, como os asiáticos, possuem uma legislação tão rigorosa que os caras pensam duas vezes antes de meter a mão. Legislação que contempla cortar as mãos ou braço inteiro, dependendo da gravidade do delito ou tamanho da bronca.

Mudando de saco…

…pra mala, ouvi dizer que o governo Lula vai ter muito cuidado em proteger o agronegócio, repetindo o que fez no seu primeiro governo quando tudo indicava o contrário. Só que, ao mesmo tempo que bota homens do campo bem-sucedidos no comando do ministérios da Agricultura, coloca em postos-chave da área pessoas ligadas ao MST e que não veem problema em invadir o terreno do vizinho.

Sem querer querendo

Esse vai ser o grande divisor de águas. A técnica de morde-e-assopra é antiga, mas é a velha história. O invadido precisa provar que a terra é sua. Há um mês, o STF concluiu que invasores não devem ser retirados antes de negociações. Ora, o sujeito invade meu terreninho e eu é que tenho que negociar com ele?

Por isso…

…que movimentos como o MST não vingam em países como o Uruguai. Mesmo os presidentes de esquerda sabiam que o agronegócio era vital para manter o barco uruguaio flutuando em mar de almirante.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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