Seu Fernandes e o copo
Anos 1960. Entro no Bar Montanhês, na rua Marechal Floriano, pouco acima da Riachuelo. Mesas de mármore, uísques importados, que não eram para meu bico. Cansado de ser bancário ganhando uma merreca que não durava duas semanas, peço um copo Minuano Limão e o sanduíche mais barato que a casa oferecia. Ponho-me a olhar gentes felizes passando em frente. Vem o português Álvaro com um copo vazio na mão.
– Oi seu Fernandes!
Ele me chamava assim. Já reclamei na boa e na má, mas não adiantava. Apontou-me o fundo do copo e em seguida a boca.
– O que é que tem?
– Viste que copo estranho? Não tem boca nem fundo!
Ria como rico ri.
– Seu portuga, vai pro raio que te parta!
Esgotei minha cota de tolerância.