Reflexões ao pé do ouvido
Porto Alegre atingiu a menor ocupação nas UTIs em 20 semanas. Na contramão dessa boa notícia, ouço e leio especialistas negando esperança e avisando que o fim (do mundo) está próximo. Tenho conversado com meu travesseiro, e ele nada conta enquanto estou acordado.
Aquele que fala dormindo
Na madrugada, porém meu ouvido que fica de frente – ou de fundo – sai da posição ouvidos moucos e acusa recebimento de um som, que meu cérebro traduz como “tudo tão estranho…” incluindo os três pontinhos. Esses travesseiros novos têm muito mais memória do que os antigos. E mais capacidade de processamento também.
Também converso bastante com meus fantasmas, mas poucos gostam de conversar. A maioria faz “uuuu” e nem espera resposta. Talvez porque fantasma surfe no vento e se movimente ao som de algumas melodias. Tenho certeza que eles também achariam muita coisa estranha neste mundo. Poderiam dizer “já fui tarde”.
Frankenstein e o samba
Um duende travestido de ogro costuma sentar na beira da minha cama quando estou semiacordado ou semidormindo. Já o ouvi dizer que ele não entende nosso Brasil, muito menos nossa imprensa e seu hino nacional, cujo nome é Samba de Uma Nota Só. Ele tem dito que estamos em extinção.
“Você seguramente está, você e os jornalistas veteranos. Não gosto da imagem dos dinossauros, até porque já fui um. Vai ser uma sucessão de um e zeros. Vocês e seus jornais impressos, e mesmo os virtuais, não podem competir com as redes sociais ou qualquer um que acerte seu ponto G numa postagem qualquer. Cara, o YouTube matou vocês” disse ele cruzando as pernas.
“Vocês jornalistas e seus jornais cheirando a mofo nunca entenderam um dos gênios da comunicação, o tio Marshall McLuhan, que detonou tudo com uma só frase: o meio é a mensagem. Escreva mil vezes na teia, o meio é a mensagem”.
A revelação
Dei-me conta de que, no futuro, não haverá mais letras, frases, só imagens holográficas.
Boa pergunta
Atrevidinho, esse duende com sobretudo de ogro. Quando perguntei ao travesseiro qual era a dele, aquela peça retangular de espuma vestido com uma fronha deu risada. “Você não entende nem seu mundo e quer entender o dele?”
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