• Alguns homens que são contrários à violência são protegidos pelos que não são.

    • Anônimo •

  • O derrame do caçador

    Publicado por: • 14 set • Publicado em: A Vida como ela foi

    Um grupo de montenegrinos foi caçar no Uruguai. O risco sempre é grande, porque quem fiscaliza caça e pesca nas terras do companheiro Tabaré Vasques é o Exército. Que não brinca em serviço.

    O grupo cercou-se de cautelas e foi adentrando o território com todo cuidado, atento a qualquer movimentação estranha. Tudo ia bem, até que um dos caçadores começou a ficar pálido e a suar frio. A turma ficou preocupada, o cara estava que era um boné velho. O que havia?

    – Estou tendo um derrame – balbuciou o caçador. – Tô mal.

    Má hora. A localidade mais próxima ficava a dezenas de quilômetros e, até lá, o sujeito poderia ir desta para uma melhor. O pior é que ninguém do grupo tinha sequer noções de primeiros socorros. O que se faz quando alguém tem um derrame?

    No desespero e lembrando do que viram em algum filme, deitaram o doente, afrouxaram a camisa. Foi sugerida respiração boca a boca. O forte bafo de cachaça prontamente os fez desistir da ideia. Por via das dúvidas, deram mais um trago para ver se o enfermo pegava pelo menos uma cor.

    E não é que o cara começou a melhorar? Ganhou cor, parou de suar e, em poucos minutos, levantou-se, todo pimpão. Em seguida, todos os paramédicos amadores sentiram um forte cheio de merda. Bueno, dos males o menor. Certamente, que foi algum mal-estar momentâneo, não um derrame.

    – Claro que foi um derrame – garantiu ele. E completou o autodiagnóstico dando mais uma talagada da mardita. – Derrame intestinal.

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  • O panorama visto da ponte

    Publicado por: • 13 set • Publicado em: Caso do Dia, Notas

    É o seguinte: olhando ao gráfico da evolução das intenções de votos para Presidente nas sucessivas pesquisas, Ibope e Datafolha em especial, você chega à conclusão que, afora Jair Bolsonaro e Marina Silva, tudo está parado no tempo. O primeiro solto na frente, mas – até agora – sem novas escaladas que mereçam ser descritas como impressionantes, é o Bolsonaro. Na rabeira, quem perdeu mais intenções de voto foi Marina Silva, que caiu. Perdeu cerca de metade.

    O esboço do quadro

    Em política não se pode ter certeza de nada, mas desconfio que Bolsonaro está chegando ao teto. A rejeição dele é alta para que o capitão vença as eleições. Pode estar no segundo turno, mas para aí. Repito, HOJE é esse o quadro. O bloco do meio, e nem vou falar nos lanterninhas, a rigor está como no início, alguns crescendo mais, outros mantendo os mesmos patamares, mas também aí. Nada de espetacular.

    Voo a confirmar

    É como se dessem um Mandrake POR ENQUANTO. Não posso crer que Fernando Haddad fique apenas nos 9% ou 12%, não acredito que Geraldo Alckmin também não cresça, e Ciro Gomes avança. Mas observem bem que também aí não é espetacular seu avanço. Pode ir para o segundo? POR ENQUANTO, pode. A confirmar.

    Tempos de digestão

    Leva – cerca de duas semanas para que debates e propaganda eleitoral atinjam corações e mentes, tarefa dificultada pelo grande número de candidatos. Então o que se vê é a turma do Mandrake pronta para escolher, mas não agora. E se entre os que irão para o segundo tempo um deles for dos extremos, virá o voto útil.

    Pragmatismo no segundo

    Não é difícil acreditar que se Jair Bolsonaro for para o segundo turno com, digamos, Geraldo Alckmin, quadro em que POR ENQUANTO o tucano aparece, o PT pragmático votaria no ex-governador paulista para evitar a vitória do capitão.

    Rejeição nada irreversível

    E aqui no Rio Grande do Sul, hein? O governador José Ivo Sartori (MDB) deu um salto nas pesquisas bem como o tucano Eduardo Leite. A continuar como está, estão no segundo turno. Até porque o candidato do PT, Miguel Rossetto, certamente tem espaço para crescer até o tamanho da fiel militância petista. O notável é que Sartori conseguiu diminuir sua rejeição.

    O ataque

    Os meios castrenses estão em alerta com a declaração de Ciro Gomes. O candidato disse que, se fosse presidente, botaria o general Hamilton Moiro “em cana”. Chama-se a isso de criar um contencioso antes do fato consumado. Bem coisa do Ciro. Já lhe custou muita eleição essa língua solta demais. Caso vença, Ciro já entra sofrendo hostilidade dos meios castrenses, os meios militares. Fosse em outra época os jornais diriam que “reina inquietação nos quartéis”.

    Velho e novo

    O PT é o partido mais velho do país. Com exceção de alguns nomes mais novos, como Fernando Haddad, a camada dirigente é a mesma da época da criação do partido da estrelinha, nos anos 1980. Vide o Rio Grande do Sul. O único nome novo testado administrativamente era Jairo Jorge, ex-prefeito de Canoas e hoje candidato ao Palácio Piratini. Era porque hoje está no PDT.

    Pauta de exportação

    Abrimos mais um item de exportação. Bandidos. Um grupo de 10 assaltantes brasileiros realizou um dos maiores assaltos da história do Uruguai, conta a Zero Hora, o ataque a um carro-forte da Prosegur, em frente ao Palácio Legislativo de Montevidéu (sede da Câmara dos Deputados uruguaia). Levaram uma quantia não revelada no todo, mas em dólares foram 51 mil.

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  • O Brasil é um país pronto que não acontece.

    • Empresário Horácio Lafer Piva •

  • Eu, torturado

    Publicado por: • 13 set • Publicado em: A Vida como ela foi

    Vocês sabem o que é tortura? Vocês pensam que sabem o que é tortura. Nem os filmes mais realistas conseguem captar a verdadeira, a definitiva tortura. E eu fui vítima dela por pelo menos dois anos. Como doeu, meu Deus, como eu sofri. E pior que ninguém se sensibilizava com meus ais! Pior que isso, até mesmo minha família achava graça em me ver supliciado. Fiquei de tal forma marcado que só agora consigo contar essa história de dor.

    Nem lembro bem, mas acho que foi aí pelo início dos 2000. Estava eu na sacada do meu apartamento, na praia, quando alguma coisa me disse que nunca mais eu seria a mesma pessoa. Chamem isso como quiserem, premonição aliada à experiência dos cabelos brancos – do desaparecimento deles, no meu caso. Primeiro veio um som suave, que depois se transformou em algo indescritível, trazido pelo vento nordestão, o anúncio que eu poderia apelar para a ONU e seus direitos humanos, quem sabe levando os autores ao Tribunal de Genebra.

    Essa tortura durou meses, e só parava durante a alta madrugada. Nem ferro em brasa, nem simulação de afogamento, nem pau de arara, nenhum deles conseguiria infligir tamanha dor, a ponto de pensar que estava perdendo a sanidade.

    Então me façam um favor: nunca, mas nunca mesmo, deixem chegar aos meus ouvidos a música Ana Júlia, gravada por um conjunto chamado Los Hermanos.

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