Overdose de quindins

19 out • NotasNenhum comentário em Overdose de quindins

Contam que certa vez, em jogo no Recife, o atacante colorado Claudiomiro gostou tanto dos quindins da loja do aeroporto que acabou tendo que ser atendido em ambulatório – comeu mais de uma dúzia. Com eventos prolongados dá-se o mesmo. 1

Depois de um certo tempo o leitor/espectador enche as medidas e fica cansado de ver ou ler com mais do mesmo. Que eu lembre, o acidente, velório e homenagens ao piloto Ayrton Senna sempre com aquela vinheta musical foram repetidas ad nauseam por anos, a ponto de encher o saco.

Igual aos comerciais-depoimentos em canais de emissoras fora do espectro das grandes redes. Ninguém aguenta mais ver as looongas peças publicitárias de medicamentos supostamente milagrosos, sem que eles mostrem a liberação da Anvisa. São os quindins do Claudomiro.

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Aí já deixou de ser engraçado e muito menos, interessante. Em eventos terríveis como este do Oriente Médio, que já não eram interessantes salvo para os que gostam de sangue e sofrimento, a repetição ad nauseam de vídeos já vistos dezenas de vezes ao longo da programação decididamente depressiva.

Guerra só é bonita para nerds que cultivam amor por armas e batalhas, sentados em cômodas poltronas, iguais às que os generais sentam enquanto mandam soldados. gente comum que nem barba tem, matarem outros soldados, gente comum como eles.

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Se quindim em excesso deu ambulatório e lavagem estomacal, guerras como essa que se passa resultam em ânsias de vômito. Não tem, nunca tiveram graça.

Entendo que jornais e emissoras de TV precisam  cobrir a guerra. Mas eu e muita gente boa trocamos de canal para assistir… mais guerra. Ainda mais que o Oriente Médio coleciona conflitos religiosos e étnicos desde tempos imemoriais, antes até dos tempos bíblicos.

O que leva à conclusão que o DNA guerreiro e brutal, já cristalizou, gerações e gerações que gostam de se matar. Dizer que guerra religiosa é diferente de guerra por territórios é esconder a verdade. Francamente, eles gostam de matar.

Meu batismo de fogo em ver a guerra como cruel que é aconteceu quando eu tinha 17 ou 18 anos. O filme alemão Das Brüke, A Ponte contou a história de adolescentes alemães, vestidos com o fervor nazista, que resolveram defender uma pequena ponte de um vilarejo por onde avançava uma coluna de tanques americanos no final da II Guerra Mundial.

Com fuzis maiores que eles, alvejaram soldados que, ao saber que eram crianças, negaram-se a devolver a Morte. Um sargento que falava alemão gritou para que parassem de lutar. A Alemanha já tinha se rendido, a guerra já estava perdida, não fazia sentido.

Um dos meninos se encheu de brio e deu um tiro na barriga do americano, que resultou em vísceras à mostra. Gritando de dor, avançou por alguns metros sob o olhar aterrorizado dos ex-fervorosos soldadinhos nazistas.
Então isso é a guerra, falei para mim mesmo quando o filme terminou.

Depois disso assisti vários filmes semelhantes e li livros com essa temática, como Sem Novidades no Front, do alemão Erich Maria Remarque. Nele, livro e filme, a dor e a tragédia vinham em pedaços ao longo da narrativa.
Sim, isso é a guerra.

Sobre signos

A quem me pergunta sobre meu signo, tenho respondido que não gosto de nenhum dos 12, embora seja Aries. Então criei o 13o, o Tatu, mais de acordo com minha vida: vivo enterrado  para escapar dos credores.  

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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