Ouvido por aí

12 jan • NotasNenhum comentário em Ouvido por aí

Ao caminhar em ruas com grande fluxo de pessoas, como a dos Andradas, em Porto Alegre, observar comportamentos é uma rica experiência auditiva e visual. O segredo é se esgueirar por entre os passantes e ficar com olhos e ouvidos bem abertos.

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Pratico esse esporte, por assim dizer, há muito tempo. Aos artistas de rua dedico especial atenção. Na maioria são esforçados, alguns fazem apresentações toscas. Mas todos precisam do vil metal para viver – ou sobreviver.

Alguns são realmente fora de série. Os argentinos de Córdoba, do Esperando el Mango, tocam um jazz de primeira. Ainda fazem os três instrumentos parecerem seis, tal a intromissão na melodia. Lembra um pouco o dixieland mais rebuscado.

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Dia 20, eles se apresentam no Gravando Bar, e têm shows agendados em várias cidades do interior. Esteban é o líder do trio. Sucesso, rapaziada.

Conversas flutuantes

Outro divertimento é ouvir as conversas das garotas que falam pelos cotovelos. Se você for persistente e se postar atrás delas, em algum momento, uma dirá algo do tipo “…Aí eu garrei e disse pra ele..”.

Um papo atual é a menção à Covid. Boa parte deles diz “Tá todo mundo pegando”. O que é uma rigorosa verdade, acrescido ou não de “Mas pegando leve”.

Não saberia dizer na classe média. Mas, nos botecos da volta do Mercado Público de Porto Alegre, não ouvi papo sobre os acontecimentos de Brasília. E sobre isso tenho uma tese.

Vox populi

Tirando a época das eleições, o povão não está nem aí para a política e também não foca muito em anormalidades como essa que vimos. A explicação é que, salvo rodas de papo regadas a cerveja ou canha, esse pessoal quer mais é rir e gargalhar, já que a vida é dura. E, sabem eles, os políticos não resolvem coisa nenhuma. .            

Canta           
Mas canta triste           
Porque é só tristeza           
Que se tem para cantar

É comum ver gente que está abaixo da linha de pobreza, oficialmente menos de 10 reais por dia, incluindo moradores de rua, rindo, gargalhando como se estivessem na boa. Não precisa muito para atingir esse estado de espírito. Sisudez  é coisa da classe média e passageiro de ônibus.

Tempos de recreio

No deck do Mercado Público, há um grupo que faz roda de samba nas sextas-feiras. É gente mais madura, muitas mulheres acompanhando maridos ou solteiras, que querem se largar na véspera do fim de semana. Isopor com cerveja e alegria são itens obrigatórios.

Todo mundo é cordial na tarde das sextas-feiras e principalmente nos sábados. É o que a vida oferece, um pequeno intervalo entre uma tristeza ou aborrecimento e outro.

Já as rodas de bar costumam atrair os salvadores da Pátria. Têm solução para tudo, inclusive para unha encravada. Alguns são divertidos. Mas, cinco minutos depois, a conversa vira chatice.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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