Outra volta no parafuso
Passa a ressaca cívica de uns e a ressaca de verdade de outros, o que se apresenta para o Brasil é um Congresso majoritariamente de direita. Na Câmara dos Deputados, vai ser difícil para Lula conseguir impor a agenda de esquerda que sempre quis.
Para compor com outros partidos, deverá abrir mão de muita coisa e abrir vaga nos ministérios para partidos de centro e até de centro-direita light. E precisa torcer para que o MST não apronte alguma invasão, porque basta isso para tirar o encanto do Lulinha Paz e Amor.
O telefone que engana
Lula fez 11 governadores provisoriamente, Bolsonaro e aliados fizeram 16 também provisoriamente. Há uma clara tendência para o, digamos, o endireitamento do Brasil, sem querer fazer trocadilho. Isso não precisa de segundo turno, é um fato, ponto.
Quanto às pesquisas, eu gostaria que o Datafolha abrisse sua caixa preta para sabermos quantos dos pesquisados bateram o telefone assim que o pesquisador dissesse que era do instituto cujo patrão fez ferrenha campanha contra Bolsonaro.
Congelamento de candidato
Já mencionei ontem o fato de que Lula ficou com os 48% mostrados pelo Ipec e Datafolha. Mas Bolsonaro não mostrou nestes trabalhos nadica de nada acima de 37%. pouco mais pouco menos.
Foi como se a intenção de voto nele ficasse congelada em um mês inteiro. A Globo apressou-se a explicar que deve ter sido migração de votos de última hora. Conversinha. Migração da noite de sábado para domingo de manhã só em filme de ficção.
O único
Para não cometer injustiças, o PoderData, do site Poder360, foi o único instituto que mostrou a ascensão de Bolsonaro sete dias antes da eleição.
Levando em conta os minutos finais desse jogo e os iniciais do segundo tempo, Lula ainda é o favorito.
Mas como sempre se disse e eu sempre repito, segundo turno é outra eleição. A história brasileira mostra que diferenças de cinco pontos podem mostrar outro resultado final.
O que é que vou dizer em casa?
Os jornais estrangeiros, encantados que estavam com a ideia que o Brasil era pura esquerda e que Lula venceria o capitão de goleada, sem alternaram em resumir o fato acontecido ou fazer nas entrelinhas a queixa de que foram enganados pelos coleguinhas brasileiros. O New York Times foi mais explícito, indiretamente se queixou dos informes que liam dando Lula como primeiro e único, talvez no primeiro turno.
Quem mais perdeu
Já se nomearam os grandes perdedores nas eleições. Mas um deles é a grande imprensa que apostou todas as fichas em Lula e massacrou Bolsonaro o ano inteiro.
Passou o tempo em que a imprensa decidia eleições e revoluções. Verdade que conseguiram marcar Bolsonaro a ferro e fogo. Mas a diferença de votos entre ele e o Lula deixa claro que não era bem isso que eles esperavam.
O exorcismo
O que se nota no ar além do friozinho que insiste em ficar é, além do desencanto com as pesquisas, a sensação de que tudo foi conspiração entre a mídia e os institutos para beneficiar o PT e coligados. E observo outra mudança de comportamento: pessoas de direita não se envergonham mais de sê-lo, posto que foram demonizados.
Santinhos do pau oco
A esquerda brasileira tem uma notável concepção de democracia: quem não é esquerda é fascista. Esquecendo que faz parte da democracia – de que tanto falam – que esse regime subentende posições além da sua. É ato falho, embute a ideia do partido único.
É pau, é pedra
No final de semana completaram-se 30 anos do impeachment do presidente Collor de Mello, posteriormente absolvido pelo STF por alguns crimes que lhe imputaram. Nem naquele tempo houve tamanha carga contra um presidente. Era pau, era pedra.