Os sons de Porto Alegre
Impressionante como a historinha que fala do apito do trem mexeu com os leitores. Todos tiveram alguma lembrança relacionada a ele. O que leva a outro aspecto de recordações: os sons e ruídos do dia a dia que preencheram nossos ouvidos.
O CLANG CLANG do metal contra metal acionado pelos pés dos motorneiros dos bondes para advertir pedestres. O maior deles, o apito da Brahma três vezes por dia. Bairros inteiros usavam o das 7h como despertador. Nas madrugadas, o apito do Guarda Noturno, que maldosos diziam que servia para alertar o ladrão.
Entre os sons perdidos, figuram o ruído dos engradados de metal dos entregadores de leite a domicílio, a campainha dos telefones nos pontos de táxi, a flauta de Pan dos carrinhos dos afiadores de facas, a corneta de vendedores de sorvetes, o CLAQUE CLAQUE das batidas de escovas dos engraxates nas caixas de madeira para atrair fregueses, os alto-falantes dos cinemas de bairro chamando para a próxima sessão, chamada alternada com músicas, muitas de marchas militares.
Outros sons ainda existem aqui e acolá, como o silvo do gás escapando na troca dos barris de chope. E também tínhamos sons particulares de alguns bairros.
Até os anos 1970, um personagem apelidado de Frank Sinatra percorria a avenida Independência assobiando músicas de Frank Sinatra. Usava o chapéu de aba curta que caracterizava o The Old Blue Eyes.
Mas um apito da Brahma em especial tinha uma boa história do tipo si non e vero e bene trovato. Nos anos 1960, a empresa resolveu cortar o caneco de chope que dava no almoço dos funcionários, o que aumentava o tempo da refeição. O sindicato entrou com ação e ganhou a causa. Perguntaram a ele o que queria como compensação, dinheiro ou menos horas/trabalho.
Nenhum dos dois. Eles queriam o caneco de chope de volta. E levaram.