Os estranhos seres disruptivos
É o que deve passar pela cabeça de uma pessoa comum não iniciada no noticiário, que usa e abusa de palavras novas como se uma pessoa comum as entendesse. Mas eu botaria algumas fichas na hipótese de que é de propósito, compreensíveis só para tribos com alguma vivência da rua Padre Chagas.
Imagem: CanvaPró
Começou com a febre de usar expressões inglesas com tradução perfeita para o português, como South (Sul) Summit (Cúpula). Faz parte da vida moderna usar adereços semânticos que conferem ao que a fala ou a escreve status de nobreza.
Verdade que muitos são bem-intencionados, apenas entram na onda sem medir que o uso do inglês em excesso, como hoje, cheira a esnobismo e classe “supérior”. Quase como as castas na Índia.
Até meados dos anos 1960, era o francês a língua mais usada para se diferenciar, posto que o país dos 740 tipos de queijos diferentes perdeu depois da II Guerra Mundial. Tanto que, no meu tempo de colégio, aprendemos francês além do inglês e do espanhol mais adiante.
O caso do taxista
Tenho um bom exemplo, para ilustrar esse raciocínio, acontecido nos anos 1990, quando o termo “logística” passou a ser utilizado a torto e a direito nas editorias de Economia. Estava saindo do Jornal do Comércio e peguei um táxi. Logo, o taxista olhou para mim pelo retrovisor e tomou a palavra:
– O senhor é jornalista?
Ante a aquiescência, o cara engrenou uma segunda.
– Me explique uma coisa. O que vem a ser logística?
Ai ai ai ai ai. Como vou explicar para alguém visivelmente com pouca instrução como funciona o processo. Bem devagar, comecei do início o beabá da coisa. Em menos de um minuto ele me interrompeu.
– Já sei! É frete, é isso?
Exultei. Não era beeem isso, mas o cara pegou o espírito da coisa. Mas sempre tem um porém. Dali para a frente, em conversa com colegas, amigos ou conhecidos, ele fatalmente dirá que logística é frete e zé fini.
Eu sei tudo
Esse e ´o problema do autodidata. Pega a parte como o todo e se acha autoridade no assunto. É forçoso reconhecer que muitos jornalistas pensam assim, de forma primária. E, depois, desandam a falar sobre o que acham que entendem. Vocês ficariam surpresos com a quantidade.
É engraçado quando um desses seres humanos pega uma expressão e passa a empregá-la em tudo quanto é contexto. Acho disruptivo com condições de virar cult. Já é, pensando bem.
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