Os estranhos seres disruptivos

29 jul • NotasNenhum comentário em Os estranhos seres disruptivos

É o que deve passar pela cabeça de uma pessoa comum não iniciada no noticiário, que usa e abusa de palavras novas como se uma pessoa comum as entendesse. Mas eu botaria algumas fichas na hipótese de que  é de propósito, compreensíveis só para tribos com alguma vivência da rua Padre Chagas.

Imagem: CanvaPró

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Começou com a febre de usar expressões inglesas com tradução perfeita para o português, como South (Sul) Summit (Cúpula). Faz parte da vida moderna usar adereços semânticos que conferem ao que a fala ou a escreve status de nobreza.

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Verdade que muitos são bem-intencionados, apenas entram na onda sem medir que o uso do inglês em excesso, como hoje, cheira a esnobismo e classe “supérior”. Quase como as castas na Índia.

Até meados dos anos 1960, era o francês a língua mais usada para se diferenciar, posto que o país dos 740 tipos de queijos diferentes perdeu depois da II Guerra Mundial. Tanto que, no meu tempo de colégio, aprendemos francês além do inglês e do espanhol mais adiante.

O caso do taxista

Tenho um bom exemplo, para ilustrar esse raciocínio, acontecido nos anos 1990, quando o termo “logística” passou a ser utilizado a torto e a direito nas editorias de Economia. Estava saindo do Jornal do Comércio e peguei um táxi. Logo, o taxista olhou para mim pelo retrovisor e tomou a palavra:

– O senhor é jornalista?

Ante a aquiescência, o cara engrenou uma segunda. 

– Me explique uma coisa. O que vem a ser logística?

Ai ai ai ai ai. Como vou explicar para alguém visivelmente com pouca instrução como funciona o processo. Bem devagar, comecei do início o beabá da coisa. Em menos de um minuto ele me interrompeu.     

– Já sei! É frete, é isso?

Exultei. Não era beeem isso, mas o cara pegou o espírito da coisa. Mas sempre tem um porém. Dali para a frente, em conversa com colegas, amigos ou conhecidos, ele fatalmente dirá que logística é frete e zé fini.

Eu sei tudo

Esse e ´o problema do autodidata. Pega a parte como o todo e se acha autoridade no assunto. É forçoso reconhecer que muitos jornalistas pensam assim, de forma primária. E, depois, desandam a falar sobre o que acham que entendem. Vocês ficariam surpresos com a quantidade.

É engraçado quando um desses seres humanos pega uma expressão e passa a empregá-la em tudo quanto é contexto. Acho disruptivo com condições de virar cult. Já é, pensando bem.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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