Os discursos de sempre

3 ago • NotasNenhum comentário em Os discursos de sempre

Nessa longa estrada de jornalismo, aprendi que, no mundo empresarial, também há evolução. Nem sempre para melhor.

Nos idos dos anos 1970, os chamados setoristas (das entidades empresariais) estavam acostumados a frequentar as reuniões-almoço das entidades. Quase sempre com oradores tratando da economia interna da classe. Ávidos por novidades, eles espremiam os presidentes para saber o que havia de novo sob o sol.

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Hoje, há um sem número de palestras, conferências, reuniões-almoço temáticas cujos temas vão e vêm como ondas no mar. A moda agora é tratar da reputação, resiliência, inovação e sustentabilidade. 

Curiosamente, EGR e outras siglas que são novas só na aparência andam escassas. Moda é assim mesmo, é passageira.

Então todos os veículos se veem na obrigação de enviar repórteres para a entrevista coletiva que antecede a palestra do já ouvido convidado. E, claro, desta vez com boia “de grátis”.

O pool

Os jornalistas de Porto Alegre que cobriam economia usavam de um estratagema para multiplicar informações usando a lei do menor esforço. Era chamado de pool. Cada um dos integrantes reunia quatro ou cinco informações. Depois, em torno das 17h, reuniam-se para compartilhá-las.

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Desta forma, você entrava com quatro notícias e saía com o dobro ou o triplo. Ninguém era “furado”. Claro que exclusiva era exclusiva.

Naqueles tempos quase bíblicos, era comum que empresas dessem entrevistas durante café da manhã, geralmente em hotéis de ponta. Isso durou até os anos 1990, e foram desaparecendo até que não se ouve mais falar neles. O horário era bom, pois deixava o dia livre pela frente.

Nunca fiz parte desse seleto clube. Eu costumava dizer que era como talharim, penne, spaghetti. Mas tudo era massa no fim das contas. O molho ficava por conta de cada um.

O cassetete invejado

Um dos cafés da manhã mais prestigiados era o do Sindicato das Indústrias de Artefatos de Borracha, cujo presidente era o empresário Geraldo Fonseca. Sempre no Plaza São Rafael.

Como a indústria que comandava também produzia cassetetes de borracha, posteriormente proibidos, ele dava um de brinde para os jornalistas. Durou uns bons dois anos até esgotar o estoque.

Certa manhã, um PM entrou no recinto e chegou perto do Geraldo. Em voz relativamente alta, disse que era da viatura que fazia o policiamento ostensivo na rua do hotel, e perguntou se podia ganhar uḿ para ele e outro para o colega. Ganhou dois.

Homem de fino trato

Lembra a história de um comissário de Polícia de muitas  décadas passadas. Era muito rude no trato dos assaltantes que prendia, para ser gentil.

Usava uma palmatória, segundo os boatos, com um lado de madeira perfurada e no lado oposto restos de pneu de caminhão. Em um escrevia “boas maneiras” e no outro “psicologia”. Com um ou outro que usasse, sempre vinha uma confissão.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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