Os agitados dias e noites do Pelotense

4 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em Os agitados dias e noites do Pelotense

Glória do Centro Histórico até meados dos anos 1980, o Bar e Rotisserie Pelotense tinha, como tantos outros colegas, uma ruidosa Mesa 1. Em uma das mesas um pouco escondidas na entrada, batiam ponto em torno de 8 titulares e meia dúzia de reservas. 

Os garçons Lope Rega, Elpídio e Hugo formavam o trio de zagueiros. Bebia-se uísque então, com algumas dissidências, entre elas, a vodka – uma marca teria matado o monge russo Rasputin em segundos.

Certo dia, um dos titulares do ritmo passou da conta e empinou metade da produção do Old Eight em algumas horas. Dizia-se que lá foi fundado o Proálcool.

Fato é que o organismo do Maneca começou a protestar. Especialmente o fígado, que até cartazes de protesto derramavam bílis. 

Não que fosse novidade, evidentemente. Mas, desta vez, a marcha das células hepáticas contagiou o coração, que já tinha sofrido um acidente de trabalho há mais tempo.

Junte-se a isso o fato dos engarrafamentos no trânsito das artérias. O quadro permitia pensar que ele não receberia o 13º naquele ano.

Em certo momento, o Maneca começou a ter aquele soluço anormal que sugere a aproximação de algo mais sério. Alarmada, a roda olhou em volta à procura de um médico ou algo parecido com um.

O mais perto que chegaram foi em um químico na mesa lindeira, conhecido por se gabar que sabia tudo de medicina. Só a proximidade da roda já dava meio porre na vizinhança. E nosso bom homem ainda fez vários reforços.

Era apelidado de Vermelhão da Serra, não pelo estádio, mas pela cor do protuberante nariz. Daria para usar como sinaleira, de tão forte.

– Vermelhão – disse um -, o Maneca tá mal na parada. Então tu sente o batimento cardíaco dele para ver se a coisa é séria de verdade. Mas atenção: o Maneca é muito sugestionável. Então, em hipótese alguma deves demonstrar preocupação.

O improvisado esculápio fez sim com a cabeça e pegou o pulso do Maneca, que o encarava com alguma ansiedade. Pulso tomado, Maneca entrou em pânico dizendo que não queria morrer. E teve um bom motivo para tal: assim que sentiu o pulso, Vermelhão olhou para o doentinho e começou a chorar copiosamente. Sutil como uma retroescavadeira.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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