O que dá para sorrir dá para chorar

24 maio • NotasNenhum comentário em O que dá para sorrir dá para chorar

Leio que o hotel tal da Serra das Hortênsias tirou o segundo lugar em concurso sobre o melhor hotel da América Latina. Desconfio dessas premiações, assim como desconfiava das medalhas de ouro recebidas por vinhos e espumantes gaúchos, moda dos anos 1990. 

Não tanto por duvidar do resultado, mas por quem os conferiu. Geralmente, são revistas ou publicações especializadas. Maioria, ilustres desconhecidas.

https://www.veloe.com.br/banrisul?utm_source=fernando_albrecht&utm_medium=p_blog&utm_campaign=tag_banrisul&utm_content=escala_600x90px

Fiz um breve levantamento e descobri que, em poucos meses, mais de 30 produtos gaúchos tinham recebido ouro ou prata. O resultado é que, para o consumidor, prêmios de bebidas, restaurantes ou hotéis só servem para aumentar o preço dos produtos ou serviços.

Faz parte do ritual da latinha, como eu chamo esses prêmios, uma tradição gaúcha de ficar eufórico até quando recebem uma tampinha de refrigerante como prêmio. Tudo bem que os donos dos negócios se alegrem. Mas, depois de mais de meio século acompanhando emoções falsas ou verdadeiras, criei uma crosta de desconfiança.

https://cnabrasil.org.br/senar

Cansei de ouvir relatos de amigos e parentes sobre a qualidade da comida de restaurantes premiadíssimos, inclusive localizados em capitais europeias. A maioria não achou lá essas coisas da boia oferecida. Mesmo aqueles que gostam de comidas refinadas. Comida de orfanato, preço de boate, não mesmo.

É mais ou menos como escolher o melhor livro lido. A não ser que a pessoa que tenha registrado o melhor só tenha conseguido ler dois. Fariam melhor se escolhessem os 100 melhores livros. E, mesmo assim, é parada dura.

Idem para música. É muito peito pedir para alguém escolher a melhor música que já ouviu. E é muita ignorância alguém selecioná-la.
O grande porém é que pessoas assim nadam em um aquário muito pequeno. Pensam que estão no Oceanário de Miami, mas nadam como peixes minúsculos em aquário um pouco maior que uma panela.

Contam que…

…um alfaiate resolveu abrir seu estabelecimento em uma  rua famosa pelo número de alfaiatarias. Logo, procurou ver a concorrência, e a primeira tinha uma placa com estes dizeres.         

O melhor alfaiate da cidade

Pouco adiante havia uma segunda alfaiataria, que também colocara um reclame na fachada.              

O melhor alfaiate do Brasil     

Logo adiante, uma terceira loja também vendia seu peixe:

O melhor alfaiate do mundo

O recém-chegado pensou, pensou e por fim pegou uma tábua e pintou o seguinte letreiro.        

O melhor alfaiate da rua

É mais ou menos como eu vejo essas coisas de melhor disso melhor daquilo.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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