O porém de sempre

29 mar • NotasNenhum comentário em O porém de sempre

Esse caso do torcedor do Inter que invadiu o gramado levando uma criança de dois anos no colo, e passou a desferir pontapé em um jogador e cinegrafista, alegando que estava protegendo a filha, lembra uma história dos idos de 1960. Durante a Revolução de 1964, em um ônibus lotado, a certa altura, uma moça em pé deu uma bofetada em um coronel fardado que estava sentado ao seu lado.

Em seguida todos os passageiros se levantaram e também deram bofetada no coronel, inclusive um humilde favelado sentado no banco bem ao fundo, que atravessou o corredor para dar porrada no coronel..

O motorista foi direto para a Delegacia mais próxima, onde um pressuroso policial ouviu os passageiros, começando pela moça. Por que ela havia dado a bofetada no militar?     

– Porque ele passou a mão na minha bunda!     

– E o senhor que estava no banco ao lado, por que a imitou?     

– Porque sou tio dela.     

– E a senhora, sentada em frente?     

– Sou tia dela.     

– E o senhor, que estava a metros dela?     

– É que sou padrinho dela.

Todo mundo era parente ou vizinho dela. Foi a vez do humilde passageiro bem no fundo.   

– Vai me dizer que também é parente dela?   

– Não. Pensei que a revolução tinha acabado.

O torcedor também achou que a revolução tinha acabado. Mas tem um porém.

Há uma chance do pai da criança ter falado a verdade quando disse que a estava protegendo. Considerem o cenário: quebra o pau na torcida que tenta invadir o campo. Ele, com a menina, fica apavorado e corre para o único lugar que vislumbra, o gramado.

O segurança o deixa entrar certamente por temer que, no meio da massa, ela pode se ferir. O pai entra, vê aquela brigalhada toda, se apavora novamente e, no pânico, chuta quem estiver na frente.

A questão toda é saber se ele entrou na briga ou a briga veio até ele. Neste caso, quem sabe.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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