O porém de sempre
Esse caso do torcedor do Inter que invadiu o gramado levando uma criança de dois anos no colo, e passou a desferir pontapé em um jogador e cinegrafista, alegando que estava protegendo a filha, lembra uma história dos idos de 1960. Durante a Revolução de 1964, em um ônibus lotado, a certa altura, uma moça em pé deu uma bofetada em um coronel fardado que estava sentado ao seu lado.
Em seguida todos os passageiros se levantaram e também deram bofetada no coronel, inclusive um humilde favelado sentado no banco bem ao fundo, que atravessou o corredor para dar porrada no coronel..
O motorista foi direto para a Delegacia mais próxima, onde um pressuroso policial ouviu os passageiros, começando pela moça. Por que ela havia dado a bofetada no militar?
– Porque ele passou a mão na minha bunda!
– E o senhor que estava no banco ao lado, por que a imitou?
– Porque sou tio dela.
– E a senhora, sentada em frente?
– Sou tia dela.
– E o senhor, que estava a metros dela?
– É que sou padrinho dela.
Todo mundo era parente ou vizinho dela. Foi a vez do humilde passageiro bem no fundo.
– Vai me dizer que também é parente dela?
– Não. Pensei que a revolução tinha acabado.
O torcedor também achou que a revolução tinha acabado. Mas tem um porém.
Há uma chance do pai da criança ter falado a verdade quando disse que a estava protegendo. Considerem o cenário: quebra o pau na torcida que tenta invadir o campo. Ele, com a menina, fica apavorado e corre para o único lugar que vislumbra, o gramado.
O segurança o deixa entrar certamente por temer que, no meio da massa, ela pode se ferir. O pai entra, vê aquela brigalhada toda, se apavora novamente e, no pânico, chuta quem estiver na frente.
A questão toda é saber se ele entrou na briga ou a briga veio até ele. Neste caso, quem sabe.