O piloto que ninguém ouviu
Lufthansa fui a primeiro a equipar seus Airbus A320 da frota com extensões nas pontas das asas, os sharklets – não confundir com os atuais winglets. Com 2m50cm de altura e em formato de barbatana de tubarão, daí o shark, permitem uma economia no consumo de combustível de até 4%. Mais uma vez, a natureza inspirou a engenharia aeronáutica. Pássaros grandes como o grou e o condor dobram as penas durante o voo e, com isso, despendem menos energia e ficam no ar por mais tempo.
Regurgitei uma história que me perturba desde os tempos de adolescente. A revista Seleções do Reader’s Digest, muito lida na época, trazia a história de um piloto da Marinha dos EUA que, em meados dos anos 1950, constatou o mesmo fenômeno nos pássaros quando voava em um caça Corsair sobre as ilhas do Pacífico Sul. Depois de estudar o voo das aves, chegou à mesma conclusão da engenharia aeronáutica quase 70 anos depois.
Nunca esqueci aquele texto, lido e relido com fascinação. Sou capaz até de fazer um desenho tosco da ilustração. O piloto naval chamou esta técnica de dobrar as penas das asas de “ângulo diedral”. Sugeriu que os fabricantes de aviões usassem o mesmo estratagema. Afinal, se com menos energia os pássaros voavam mais, deveria acontecer o mesmo com os aviões.
Ninguém o ouviu. Estava à frente do seu tempo. Hoje, ninguém lembra daquele piloto, e se inspiraram nele sem citá-lo, foi apropriação indébita.