O passado que não terminou

1 jul • Sem categoriaNenhum comentário em O passado que não terminou

Se alguém pegar os jornais de três meses atrás vai observar que em matéria de eleição não mudou muita coisa. De fato, não mudou nada. Lula e Bolsonaro encabeçam as pesquisas. Lula na frente, e o capitão em segundo, com distância maior ou menor, dependendo do instituto que a realizou.

https://promo.banrisul.com.br/bdg/link/transforma.html?utm_source=fernando_albrecht&utm_medium=blog&utm_campaign=rebranding&utm_content=escala_600x90px

Nos estados, continuam os esforços frenéticos dos índios da aldeia para compor chapas estaduais de acordo com o desejo das suas majestades, os caciques nacionais das cúpulas, de olho na eleição para presidente. E, em segundo plano, a ideia de fazer grande bancada no Congresso.

Ciro Gomes segue com 8%, Simone Tebet saiu da casa de 1% para atingir 3% das intenções de voto. O resto é o resto. Nada da terceira via engrenar a segunda marcha.

https://cnabrasil.org.br/senar

Muitos caciques de 2022 já eram caciques em 1980 ou 1990, e viva a renovação. Como falei, não mudou nada.

A esquerda tem alguns rebeldes que insistem em correr em faixa própria, como o PSDB do Rio Grande do Sul. Já o PT continua achando que é cabeça de baleia e sobre toda a paisagem existe só uma certeza: Lula é o PT e sem ele não existe Partido dos Trabalhadores. Pelos próximos quatro anos, se  nada de mais acontecer, o torneiro mecânico dos anos 1960 vai governar o Brasil dividido até a medula.

Não é só na esquerda que estamos em posição de Mandrake, aquele joguinho dos anos 1950 baseado na HQ do mágico de mesmo nome. À ordem Mandrake!, o alvo devia permanecer imóvel até que se dissesse “Livre”.

Pois o Brasil está na posição sem que apareça alguém dizendo a frase mágica. Nos tempos de criança, sempre aparecia algum sacana que não liberava e saía de cena sem dizer Livre!.

Os desafortunados obedientes ficavam na posição de imobilidade até ter câimbras. Foi assim que milhões perderam a ingenuidade, e boa parte passou a copiar os sacanas. Sacanas fabricam sacanas..

Mesmo que os principais nomes sejam substituídos, os grupos que controlam os marionetes e os líderes que controlam a indiada são como o Big Bang, cuja radiação de fundo pode ser medida até hoje passados 16 bilhões de anos.

Exemplo: o Centrão. No governo José Sarney, anos 1980, ele já existia, e olhem que estou falando de 50 anos atrás. Estou convicto que tudo faz parte de um enorme buraco negro.

Ao lembrar os programas dos antigos partidos, dá vontade de rir. O PDS, antiga Arena dos anos militares, depois PPB (!) e hoje PP previa cogestão nas fábricas, acreditam nisso? Pois acreditem.

Operários sentando na mesa dos diretores no dia a dia é o sonho de consumo da esquerda, e o sonho dos bolcheviques ainda não extinto e reunião de diretoria sem diretores. Quebram qualquer empresa em poucos meses.

Na França, há um sistema parecido, mas o sonho do PDS morreu na casca porque ninguém olhou o programa. Quero dizer que ninguém dá pelota para programas.

O negócio é a reeleição e arrumar cargos ou “pontos” bons. O que mudou de três meses para cá foi o preço dos combustíveis. Mas antes mesmo da pandemia os caminhoneiros e você  já reclamam do alto preço do litro.

Como nos filmes de ficção científica de longas viagens interestelares que levariam anos e anos, melhor ser congelado e acordar décadas depois como se tivesse sido ontem.

Só sentiremos mudanças a partir do fim do mês de julho ou quando o imponderável entrar sem pedir licença. Sim, o avião brasileiro sentirá forte turbulência, mas até mesmo isso é coisa do passado. Como diz o provérbio, Deus protege os bêbados e as crianças. Dá para botar brasileiros nessa conta. Um dia Ele cansa. Se é que já não nos largou de mão.

Outro dia, fiz uma viagem no tempo e voltei aos meus sete anos. A II Guerra Mundial terminara, mas a bronca continuava com Getúlio Vargas. Vi estarrecido a turba ensandecida botar foto em jornais e empresas pretensamente americanas em 1954.

Vivi os anos turbulentos de Jânio Quadros, a experiência fracassada do sistema parlamentarista a Revolução de 1964, o AI 5 de 1968, a abertura e morte de Tancredo Neves, os anos de hiperinflação, a globalização, um sistema em que um país avançado espirra, mas causa pneumonia nos pobrinhos como nós, o PT no poder, os escândalos do Petrolão, a Lava Jato. Enfim, nunca conseguimos passar um bom tempo sem algum tipo de bronca.

E como atravessar uma cidade a pé e não conseguir percorrer uma só quadra sem algum tipo de obstáculo.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

FacebookTwitter

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

« »