O mundo não é justo
O Jorge entrou animado como nunca no restaurante Dona Maria. Como sempre, foi direto à Mesa Um, onde estavam os guerreiros etílicos esperando fiéis parceiros de bebida e pouca comida. Notaram o ar alegre do recém-chegado. O Benito ficou curioso.
– O que houve? Ganhou na loteria?
Bem perguntado porque o Jorge era um poço de dívidas. Esperava que a sogra desencarnasse, eis que ela tinha imóveis a dar com pau. Mas era avarentas em dar algum para o genro.
Só o que o que ela tinha de velha tinha de saudável. Dependendo dela, médicos morreram de fome.
– Pois vocês precisam saber que a velha teve um mal estar, piorou de madrugada e acordou muito mal. Está no hospital.
E disse isso rindo. Todos ensaiaram um aplauso. Mas foi o professor Brilhante que deu a bronca.
– Mais respeito com a pobre moribunda! Onde já se viu, ela mais pra lá que pra cá e vocês achando graça.
A indignação não colou e nem mesmo foi levada a sério. Então, ao final o Jorge fez questão de pagar as Brahmas.
No dia seguinte, o Jorge não compareceu aos trabalhos. Todos acharam que, desta vez, a velha tinha ido para o beleléu, e o amigo entraria na grana.
Não foi assim. Dois dias depois, o Jorge entrou com uma cara de enterro, muito triste de semblante e sem dar trela para quem puxasse conversa.
– A velha morreu?
O genro botou as mãos na cabeça.
– Não. Ela teve uma melhora súbita.