O milagre da multiplicação do saldo

28 ago • A Vida como ela foiNenhum comentário em O milagre da multiplicação do saldo

 Até meados de 1970, o Rio Grande do Sul tinha quatro grandes bancos: Província, Sulbanco, Nacional do Comércio e Agrícola Mercantil,(Agrimer), com sede em Santa Cruz do Sul. Os quatro primeiros foram  comprados pelo Montepio da Família Militar (MFM) e viraram Sulbrasileiro.

O Agrimer foi comprado pelo Banco Moreira Salles e virou União de Bancos. Eram raros os golpes e fraudes contra correntistas. Você chegava no balcão, pedia ao atendente ver o saldo ou movimentar a conta.

Os valores eram registrados em uma ficha física com caneta. No final do expediente, outro bancário transportava a movimentação por uma máquina de escrever especial, que também fazia o registro em papel copiativo que, depois, era transferido para um livro com páginas  indeléveis.

Se alguém quisesse fraudar uma conta corrente teria que falsificar os quatro sistemas, incluindo a paridade com a movimentação do caixa. Em matéria de segurança (e vazamentos de dados pessoais) davam de relho no sistema digital de hoje. Portanto, ontem era mais seguro que hoje. O primeiro banco a substituir as fichas de conta-corrente físicas foi o União de Bancos, em 1970, com o saldo alterado diariamente.

Na época, eu recebia pela União de Bancos. Como troquei de banco e estava esperando o depósito do FGTS do ex-patrão, fui conferindo o saldo restante. Era o dobro que eu tinha, digamos equivalente a 100 reais hoje, mas muito aquém do Fundo.

Dia após dia, meu dinheiro se multiplicava, apesar do meu alerta para a gerência, que não encontrava o milagre da multiplicação. E eu guardei todos os comprovantes. Quando chegou a 15 mil, saquei tudo sabendo que viria bronquite asmática. O FGTS veio por outro banco.

No dia seguinte, o gerente me ligou espumando de raiva. Que eu era um vigarista e que chamaria a Polícia. Respondi que ele baixasse a bola porque eu tinha guardado os extratos. Quem vai ser processado é você, falei. O gerente viu que era causa perdida, e com aflição me perguntou como eu poderia devolver o dinheiro.

Sugeri um empréstimo de 20 mil sem juros e com pagamento a perder de vista. Os 5 mil eram a Taxa de Desaforo, mas seria devolvido. Sem saída, o cara não teve outra saída.

Eu me senti como um justiceiro. Em uma ocasião, um colega do Província quase levou uma fortuna fraudando uma duplicata. Mas essa já é outra história.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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