O marasmo nosso de cada dia

5 jun • NotasNenhum comentário em O marasmo nosso de cada dia

Os acontecimentos diários e registrados no dia a dia pela mídia em geral não devem ser confundidos com tempos agitados ou surpreendentes. Antes de entrar no assunto, um parêntesis. Sempre digo que acho errado o emprego da palavra “fenômeno” a três por quatro. Embora, às vezes, eu seja obrigado a usá-lo.

Fenômeno é a consequência lógica de um fato não detectado a tempo, ponto. Então estamos cheios de “fenômenos” em todas as áreas da atividade humana.

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Fenômeno que não é fenômeno

Vejamos o caso do fenômeno” El Niño, o aquecimento das águas do Pacífico, que significa chuvas em excesso no Sul do Brasil. Ora, tanto o El Niño quanto o La Niña são conhecidos pelos povos indígenas dos países andinos desde tempos imemoriais, porque lá são os primeiros a sentir o drama.

Quando os espanhóis chegaram, deram esse nome aos dois maninhos porque era época de Natal. Jesus Cristo nascido era o guri, mas quando veio  a seca tiveram que inventar o La Niña, o oposto.

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A casca da árvore

Parêntese fechado, vamos à casca da árvore. Olhando de perto, parece uma sucessão de cordilheiras e vales, picos e depressões. De longe, a casca parece harmônica, quase lisa.

Há coisa de 30 anos, usou-se esse exemplo para criar a Teoria dos Fractais, mas de modo mais amplo. O caos só é visto de perto; a natureza é caótica. Mas, ao longo do tempo, o caos gera harmonia.

A casca do Brasil

Voltando ao início destas notas, os tempos que correm no Brasil parecem uma casca de árvore vista de perto. Na medida em que nos afastamos, o distanciamento crítico a que se referia Bertolt Brecht, parece uma coluna de mármore bem polida. É a nossa sina no fim das contas.

Não recordo um só ano da minha vida que não tenha vivido uma crise ou sobressaltos institucionais nacionais ou regionais. Não dá tempo nem de comer um sanduíche com taça de café sem ver ou viver algo conturbado.

Isso é o Brasil

É o que costumamos dizer quando surgem esses sobressaltos. Los Angeles tem terremotos diários e até horários. Mas tão sutis que só os turistas ficam preocupados.

Os nativos até riem. Porém, sabem até as loiras de bíquini e peitos enormes abastecidos com silicone da Califórnia, um dia virá o Big One, provavelmente originário da Falha de San Andreas.

Os cientistas e geólogos acham que poderá rachar o estado em dois. Ironia é que a Califórnia é o estado mais rico dos Estados Unidos, o maior contribuinte do PIB do país. O que virá depois, o Day after, não sabemos.

Nossa falha geológica

No Brasil, também podemos esperar o Big One, um terremoto político-institucional, que vem gerando atritos como placas tectônicas que se chocam gerando uma energia grande a ponto de causar terremotos e tsunamis. A fenda enorme entre paupérrimos e pobres comparados com a classe média para cima só precisa de um elemento imponderável ou ponderável com o sucessivo fracasso dos governos.

O caminhão de melancias

Como diziam os economistas – não os vejo mais usar este exemplo – a dúvida é se a aterrissagem vai ser suave ou um baque seco na pista capaz de afetar a estrutura do avião Brasil. Bem, não se sabe quando, mas em algum ponto do futuro as melancias vão ter que se ajeitar na carroceria do caminhão.

Sempre ferrados

De certa forma, nós consumidores nunca estivemos tão frustrados, apesar da lei que nos protege. Arrisco dizer que estamos até mais desprotegidos. É um analgésico apenas razoável para pequenas dores de cabeça, não para as grandes – e os grandes causadores delas. Estamos nus no banheiro do presídio.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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