O futuro que nunca tive
Para começar, vos digo que já cantei em uma dupla sertaneja com pouco mais de 11 anos. Então conto o causo como o causo foi.
A comparação do ensino de hoje com o do passado fica prejudicado porque os tempos mudaram, e a internet reina. Mas é fora de qualquer dúvida que as disciplinas de então ampliaram a cabeça dos alunos. No início do ginasial, ensino médio, tínhamos até canto orfeônico e trabalhos manuais.
E aí que eu entro. Gostei muito de educar a voz, a ponto de aceitar o convite de um irmão marista da Aula de Música a formar uma dupla com meu colega de aula Pedro Artur Ody. Foi assim que nasceram Os Canarinhos do Sertão, vejam só. Cantávamos em festas de igreja no interior de Montenegro, com razoável sucesso. O Pedrinho fazia a primeira voz e eu, a segunda. E aí começou a desavença com o regente, Irmão Afonso.
Eu gostava mesmo da fazer a terceira voz, a mais difícil, o que requeria mais um componente. Só faltava a quarta voz, a mais grave, lá embaixo, mas dava para viver sem ela. Eu podia descer quando fosse preciso. Um trio de canários estava de bom tamanho. Mas ele não gostou e até ficou ofendido com minha sugestão. Cada macaco no seu galho, falou.
Resumindo, Os Canarinhos do Sertão ficaram mudos depois de um ano. Dava zero dinheiro, só refrigerantes e lanches, mas eu me divertia muito. Às vezes, fico pensando como teria sido minha vida se o Irmão Afonso tivesse aceitado minha sugestão.
Ninguém sabe, e essa é uma das minhas tantas dores por não ter outro futuro, montado em cavalo já encilhado.
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