O enigma do tempo
Estava bebericando meu café mineiro passado na Cafeteria Cheirin Bão quando passou um garota-monumento. No frescor dos 20 e poucos anos, pisava no chão com dupla segurança, sabia que era bonita e sabia que despertava admiração.
Não sei se ela se dá conta que o tempo voa, o tempo passa. E, num piscar de olhos, seu corpo será afetado pela lei da gravidade como todos nós.
Não lembro se, nos meus verdes anos, eu curtia o fato de ser jovem. Só sentia que alguém com 40/45 anos era velho.
Claro, a expectativa de vida naquela década era pouco superior a 60 anos. Hoje, passa folgado dos 72.
Medicina e prevenção à parte, somos cada vez mais velhos, apesar do cretino que inventou de chamar a velhice de melhor idade. Vou dizer uma coisa que aprendi na minha longa jornada: afirmações desse tipo são prova de condescendência, o pior sentimento que existe. Coitado dos velhinhos, vamos melhorar a autoestima deles blá-blá-blá.
O fato é que, para mim e muita gente boa do presente e do passado, o tempo é um enigma maior que o espaço sideral. O tempo se flexiona, provou Albert Einstein, não a palavra, o tempo mesmo.
Para pessoas saudáveis o tempo passa rápido. Mas para quem sofre de doença dolorosa os minutos parecem horas. Tudo é relativo, não é mesmo seu Einstein?
Certa vez, perguntaram para Deus, o tempo eterno em pessoa, o que para ele eram 100 anos. Um segundo, respondeu Ele. E 100 milhões de reais? Um real, falou.
– Então me dá um real.
Deus balançou a cabeça.
– Espera um segundo.
O tempo é Deus.
A volta da garota
Quando a tal garota passou deixando no rastro um sutil, mas caro perfume, senti que algo me passava nessa equação vida-morte. Como nas situações em que você quer lembrar um nome, mas ele não sai. Está na ponta da língua, mas faz desfeita.
Como raios me escapou? Seria algo que só saberemos milésimos de segundo antes do amargo fim? Ou seríamos nós com uma formiga pisoteada por acaso por uma bota?
Não, não é espaço. É o tempo.
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