O doente que mudou de igreja
Um diretor de instituição financeira com quem me dava muito bem me atacou na esquina da avenida Independência com a rua Tomaz Flores, Porto Alegre anos 1980. Queria contar algo assombroso, falou, tão assombroso que até eu ficaria admirado. E realmente fiquei, como passo a narrar seu caso.
– Há alguns meses, apareceram manchas estranhas no braço. Tratei de ir ao meu dermatologista. Depois de um exame cuidadoso, veio a má notícia. Eu tinha um melanoma, um câncer de pele muito agressivo. Pediu uma série de exames. Nem preciso dizer que minha vida ficou de cabeça para baixo. Deu um suspiro agoniado.
– O resultado não podia ser pior. Deu metástase em alguns órgãos, e o médico me disse com todo o jeito o que eu já adivinhava: deu pra minha bolinha. E se eu consultar um médico nos Estados Unidos, perguntei. Vais ganhar um ou dois meses de vida a mais e vais gastar o que não podes. Mas vou te sugerir outro tratamento.
– Qual?
– Disse que eu deveria fazer tratamento de aparecida terapia. Que fosse rezar na igreja de Nossa Senhora Aparecida em São Paulo. Eu fui.
– Mas tu és luterano!
– Foi o que falei ao dermatologista. Ele respondeu que mal não faria. E, a essa altura, tanto faz quanto fez. Não vais acreditar no que aconteceu.
Fiquei extremamente curioso. Olhando para ele, não aparentava nenhuma doença.
– Pedi licença na empresa e fui para casa aguardar o triste fim. Passados dois meses, as manchas desapareceram. E novos exames revelaram que o câncer e metástase sumiram. Para mim, foi milagre. Para a medicina, isso se chama remissão.
– Que boa notícia me dás!
– Eu que o diga, parceiro. De formas que devo ser o único luterano que se converteu ao catolicismo.