O crime do bigode
Quando minha mãe completou 91 anos – ela faleceu um ano depois, em 1994 – tive uma longa conversa com ela sobre os tempos de sua juventude e os duros anos do início do casamento. O Vale do Caí era pouco habitado na época, e meu pai percorria longas distâncias com sua mula. Depois com os frágeis carros e caminhões.
Ela disse que imagens antigas reapareciam na sua cabeça, era capaz de descrever cenas, cheiros, roupas e rostos com minúcia assombrosa. Contou em episódio em que o pai foi com ela numa festa de dia de matança de porcos no Morro do Tico-Tico (Spatzberg), em Bom Princípio. Um evento comum naquela época. Apareceram vizinhos, conhecidos e amigos.
O pai era uma espécie de líder da região. A festa ia bem até que apareceu um desafeto.
O homem era violento, truculento e tinha um brilho assassino no olhar, contou ela. Desafiou meu pai, puxou um revólver e ficou brincando com ele até apontá-lo para o pai.
Nisso, um empregado nosso se interpôs e o desafiou com uma frase que fazia sentido em alemão. Ficou entre os dois.
– Vou dançar uma valsa debaixo do teu bigode!
Neste preciso momento o valentão atirou. Ele morreu defendendo meu pai, disse a mãe com os olhos marejados.
Foi um enterro triste. Ela só não lembrou o desfecho, se o assassino foi preso ou não. Conhecendo as histórias daquele tempo, temo que o crime tenha ficado impune.