O crime do bigode

23 dez • A Vida como ela foiNenhum comentário em O crime do bigode

Quando minha mãe completou 91 anos – ela faleceu um ano depois, em 1994 – tive uma longa conversa com ela sobre os tempos de sua juventude e os duros anos do início do casamento. O Vale do Caí era pouco habitado na época, e meu pai percorria longas distâncias com sua mula. Depois com os frágeis carros e caminhões.

Ela disse que imagens antigas reapareciam na sua cabeça, era capaz de descrever cenas, cheiros, roupas e rostos com minúcia assombrosa. Contou em episódio em que o pai foi com ela numa festa de dia de matança de porcos no Morro do Tico-Tico (Spatzberg), em Bom Princípio. Um evento comum naquela época. Apareceram vizinhos, conhecidos e amigos.

O pai era uma espécie de líder da região. A festa ia bem até que apareceu um desafeto.

O homem era violento, truculento e tinha um brilho assassino no olhar, contou ela. Desafiou meu pai, puxou um revólver e ficou brincando com ele até apontá-lo para o pai.

Nisso, um empregado nosso se interpôs e o desafiou com uma frase que fazia sentido em alemão. Ficou entre os dois.

– Vou dançar uma valsa debaixo do teu bigode!

Neste preciso momento o valentão atirou. Ele morreu defendendo meu pai, disse a mãe com os olhos marejados.

Foi um enterro triste. Ela só não lembrou o desfecho, se o assassino foi preso ou não. Conhecendo as histórias daquele tempo, temo que o crime tenha ficado impune.

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Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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