O assassino do bumerangue
Quando eu tinha sete anos, meu pai me deu um bumerangue australiano, aquele instrumento de madeira que os aborígenes usavam para caçar. Se o alvo não fosse atingido, ele voltava para quem o atirou graças à sua aerodinâmica peculiar.
Feliz da vida, fui ao potreiro do seu Inácio “Notz” Schneider para experimentar. Foram duas horas de disparo e ele nunca voltou, nem naquele dia nem nos subsequentes.
É o jeitinho, me disse o tio Edgar. Anos mais tarde, li algo sobre o manejo da arma. Uma ilustração mostrava qual o lado certo de pegar o bumerangue, se o braço mais comprido ou o curto. Em seguida, era preciso curvar o braço para atrás e acima da cabeça, então girá-lo em semicírculo e inclinando o corpo para a frente e para o lado. E só então jogá-lo.
Nunca experimentei se dava certo, porque não achei o bumerangue nos meus trastes. Vai ver, deve ter voltado para a Austrália da última vez que o atirei. Lá encontraria quem soubesse manejá-lo. E eu me livrei de ser chamado de Assassino do Bumerangue.