O amor pelas latinhas

16 maio • NotasNenhum comentário em O amor pelas latinhas

É meio geral. Mas o Rio Grande do Sul cultua como ninguém a devoção pelas medalhas e títulos honoríficos, que eu chamo de latinhas. Pode ser uma tampinha de refrigerante dada por uma hipotética Associação dos Plantadores de Urtiga, que lá vem gente entrar na fila. Os famosos diplomas, que já foram mais votados, hoje estão com oferta diminuída porque os agraciados querem algo sólido, metal, nem que seja de alumínio de latinha de cerveja.

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As entidades empresariais costumam distribuir troféus, medalhas ou esculturas produzidas em série por algum artista razoavelmente conhecido ou um ilustre desconhecido. E é motivo de decepção para empresários ou CEO que não receba um galardão desses. 

Dá briga, até. Para nós jornalistas esse tipo de troféu também é importante para reconhecimento profissional. Até aí, tudo bem. Mas nunca alguém deveria ligar para quem dá latinhas ou fazer campanha para os promotores.

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Para que fique bem claro, nunca em 55 anos de jornalismo eu me inscrevi em algum prêmio jornalístico, nunca. Nem Prêmio ARI ou outros mais votados. Todas as premiações que recebi foram espontâneas. Nunca pedi votos, e a simples ideia me envergonha.

O caso do doutor em dobro

O que falo é dessa ânsia de figuras de sociedade em colecionar comendas ou títulos diversos. É briga de foice essa cultura. Acho que nem no Nordeste isso acontece com tanto ardor como aqui.

E conto um caso do tempo em que fui bancário, atendente de balcão, aos 18 anos. Um médico abriu uma conta corrente e, ao pedir documento de identidade, o homem mostrou duas carteiras de registro profissional, a de médico e a de engenheiro. Até aí tudo bem, é raro mas não é incomum. Incomum era a assinatura dele na ficha de cadastro. 

Para começar, nunca a assinatura para conferência de cheques vem com Dr antes. Mas ele não só adicionava antes do nome do registro civil, como ainda botava um 2 em cima do Dr – Doutor ao quadrado, como fez questão de me explicar, com a maior cara de pau.

Fiquei com vontade de perguntar se a mulher dele transava com os dois ao mesmo tempo ou um por vez. Mas me contive. Às vezes, em vez de presença de espírito é melhor ausência de corpo.

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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