Nossa mãe!

11 out • NotasNenhum comentário em Nossa mãe!

O feriado nacional desta quarta-feira deve levar uma legião de políticos, especialmente candidatos a governador que não venceram no primeiro turno, para rezas constritas no Santuário de Nossa Senhora de Aparecida, em São Paulo. É sempre assim em efemérides religiosas que ultrapassam as fronteiras do município ou estado.

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De preferência, farão o possível e o impossível para dar as caras para as câmeras das redes de televisão, incluindo a TV Aparecida. É a versão católica do papagaio de pirata. Era assim na Festa de N.S. dos Navegantes em Porto Alegre em décadas passadas.

Papagaio católico

Até mesmo comunistas de carteirinha iam lá dar uma risadinha no mais puro espírito do ditado espanhol, não creo em brujas, mas que las hay, las hay. Outros iam só para fazer a figuração de impressionar eleitores, de preferência devotos de Nossa Senhora ou sua equivalente, Iemanjá.

Para quem não conhece a festa porto-alegrense, a procissão era fluvial e terminava junto ao ancoradouro da igreja Nossa Senhora dos Navegantes, no bairro de mesmo nome. Era um festão para o povo, festa enriquecida pela tradição de coincidir com a safra da melancia, que, naqueles tempos, tinha seu auge em fevereiro. Após a missa, toneladas da fruta eram compradas por preços ínfimos.

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Como desculpa para não ter “congestã” o povão acompanhava a fruta com um liso de cachaça, que teoricamente evitava congestão ou algo de feio parecido. Mas era a maior festa popular de Porto Alegre, ganhava até do Carnaval.

Depois alguém inventou que a Capitania dos Portos tinha proibido a procissão dos barcos alegando risco de tragédia – o Guaíba ficava apinhado com embarcações de todo tipo e tamanho.

Anos depois veio a verdade. A Marinha nunca proibiu, apenas exigiu coletes salva-vidas em número suficiente para todos os passageiros, além de botes. Quem espalhou  foi alguém da diretoria da irmandade que também veio a lume anos depois, que teria feito uma promessa de realizar a procissão fluvial a pé.

O passado do bom moço

Nos anos 1980, quando houve uma constituinte gaúcha, foi à festa um ex-guerrilheiro famoso por suas ações contra quartéis e prédios do governo. Os grupos extremistas, chamados de terroristas pela imprensa e governo, lançaram bombas e atacavam quartéis, às vezes matando soldados. Pois um desses deputados foi apresentado à mãe de um vereador, que o achou muito simpático “com cara de gente boa”. E alugou o político, sempre repetindo o “cara boa” e perguntado o que ele fazia na vida, a sua profissão. O cara chutou o balde da paciência.     

– Minha senhora, já joguei bomba no quartel, dei tiro de fuzil na polícia e nos milicos para dizer o mínimo. 

Espantada e com os olhos arregalados, a mãe do vereador o fitou demoradamente.     

– Logo vi que o senhor não prestava.

Os cara de pau

Saiu um artigo alertando as empresas que usam o reconhecimento facial como única forma de reconhecer empregados e visitantes que esse sistema não é 100% confiável. Um dos problemas é a baixa resolução de celulares mais antigos. O autor sugere que se use sistemas redundantes. Ótimo, mas e como evitar os cara-de-pau que conseguem alterar a fisionomia, como vigaristas e outros meliantes que sempre arrumam uma maneira de alterar a própria cara?

Fernando Albrecht é jornalista e atua como editor da página 3 do Jornal do Comércio. Foi comentarista do Jornal Gente, da Rádio Band, editor da página 3 da Zero Hora, repórter policial, editor de economia, editor de Nacional, pauteiro, produtor do primeiro programa de agropecuária da televisão brasileira, o Campo e Lavoura, e do pioneiro no Sul de programa sobre o mercado acionário, o Pregão, na TV Gaúcha, além de incursões na área executiva e publicitário.

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